sábado, novembro 01, 2025

Os Justos & O Dia de Todos os Santos

 Para reflexão deixo-lhe hoje dois belos textos: uma reflexão do Cardeal D. José Tolentino Mendonça e o poema de Jorge Luís Borges que lhe serviu de inspiração. Feliz Dia de Todos os Santos.

"Há um poema do Jorge Luís Borges em que ele fala dos justos que estão a salvar o mundo. Conta de um homem que está a ver as provas de um livro e esforça-se por não deixar passar um erro, daquele que cultiva com amor um pequeno jardim, daquele que faz gestos que não se vêem. E ele diz: “Estes justos estão a salvar o mundo mas não sabem.”

A dimensão fundamental da santidade é uma dimensão que nós não sabemos. Porque não se trata de identificar como santo. A santidade é anónima, a santidade não se dá por ela, não se pensa que é santidade. Ou o próprio não pensa, só no coração dos outros é que nasce a pergunta. Quando diziam a Dorothy Day que ela era santa ela dizia: “Não me digam isso! Não me afastem dos outros!” A santidade não é um pódio, não é os primeiros da classe, não são os avançados, aqueles que são colocados à parte, puros. Não, os santos andam a lavar os pés da Humanidade. 

Os santos andam a carregar os seus pesos, os santos andam a fazer rir, os santos andam a levar o saco das compras, os santos andam mais devagar para ir ao lado dos outros. Os santos falam, os santos calam, os santos cozinham, os santos jejuam, os santos fazem festa, os santos visitam prisões e hospitais. Os santos são os semelhantes a Deus, os semelhantes a Deus".

Texto do Cardeal D. José Tolentino Mendonça©

Os Justos
Um homem que cultiva o seu jardim, como queria Voltaire.
O que agradece que na terra haja música.
O que descobre com prazer uma etimologia.
Dois empregados que num café do Sul jogam um silencioso xadrez.
O ceramista que premedita uma cor e uma forma.
O tipógrafo que compõe bem esta página, que talvez não lhe agrade.
Uma mulher e um homem que lêem os tercetos finais de certo canto.
O que acarinha um animal adormecido.
O que justifica ou quer justificar um mal que lhe fizeram.
O que agradece que na terra haja Stevenson.
O que prefere que os outros tenham razão.
Essas pessoas, que se ignoram, estão a salvar o mundo.
Jorge Luís Borges -"A Cifra". Tradução de Fernando Pinto do Amaral

sexta-feira, outubro 31, 2025

Bolo de Abóbora

É véspera do Dia de Todos os Santos, dos Bolinhos e Bolinhós, do 
Pão por Deu
s ou mais recentemente do Dia das Bruxas









Assim, proponho-lhe uma receita de Bolo de Abóbora, que descobri na net (Maria Silva, Paixão Alentejana), para este dia que se prevê fresco e chuvoso.

Agora é só fazê-lo. 
Bom apetite!

quinta-feira, outubro 30, 2025

Os Beijinhos de Freira

"Parávamos sempre para chá e compra de bolos regionais nas pastelarias das praças da república de todas as vilas do Norte.(…) trazíamos (…) de Vila do Conde os afamados beijinhos e eu bebia aí uma laranjada sem picos, feita com açúcar melado e de que nunca mais a minha memória me privou."

 Ruben A. -  O Mundo à Minha Procura

Os "Beijinhos de Vila do Conde" são na verdade os "Beijos de freira ou Beijinhos de Freira", um doce conventual tradicional feito com ovos, açúcar e amêndoa. A sua origem está ligada ao Convento de Santa Clara, convento onde as freiras aperfeiçoaram a arte da doçaria, sendo os "Beijos de freira" um dos seus doces mais conhecidos. 

O biscoito beijo-de-freira teve origem no Convento de Santa Clara, que foi instituído em princípio do século XIV e que até hoje domina a paisagem da cidade de Vila do Conde, distrito do Porto, em Portugal. Era ali feito pelas freiras que lhe davam o formato de lábios, daí ter surgido o nome beijo-de-freira. Ao longo dos tempos algumas modificações foram feitas quer no formato quer substituindo alguns dos ingredientes.

Ingredientes: Ovos, açúcar e amêndoa são os ingredientes principais, característicos da doçaria conventual portuguesa.

Preparação: O processo envolve a criação de uma calda de açúcar, à qual se juntam a amêndoa moída e as gemas batidas. O preparado é cozido até engrossar, depois moldado em pequenas bolas e passado por açúcar cristalizado, geralmente colocado em formas de papel frisado.

Este doce faz parte de uma longa tradição de doçaria conventual em Vila do Conde, impulsionada por mosteiros como o de Santa Clara, que funcionou como uma verdadeira escola de confecção de doces.

E agora aqui lhe deixo uma receita:

Ingredientes:
10 gemas
100 g de miolo de amêndoa
125 g de água
250 g de açúcar + q.b. para envolver os bolos

Preparação:
Leve o açúcar e a água ao lume, fazendo uma calda em ponto de pérola (108º C - do fio que escorre da colher, forma-se uma bola que fica suspensa na extremidade).
Junte à calda de açúcar a amêndoa, pelada e moída, e as gemas batidas. Mantenha em lume brando, mexendo sempre até cozer as gemas e engrossar.
Deixe o preparado repousar de um dia para o outro.
Com as mãos, molde pequenas bolas e envolva-as em açúcar cristalizado. Coloque depois as bolinhas em formas de papel frisado.
Bom apetite.

quarta-feira, outubro 29, 2025

Coração de Vaqueiro

Ouça o cantor brasileiro João Gomes em Coração de Vaqueiro (Clipe Oficial).
João Gomes (2002) é um cantor e compositor brasileiro de forró, piseiro e MPB. Alcançou destaque no Brasil com o seu álbum de estreia, tornando-se o cantor mais ouvido no ano de 2021.

As músicas Meu Pedaço de Pecado, Se For Amor e Eu Tenho a Senha" foram os principais sucessos do primeiro álbum do cantor, rendendo-lhe uma indicação como Artista Revelação de 2021.

terça-feira, outubro 28, 2025

Amor como em casa

Regresso devagar ao teu sorriso como quem volta a casa.
Faço de conta que não é nada comigo.
Distraído percorro o caminho familiar da saudade,
pequeninas coisas me prendem,
uma tarde num café, um livro.
Devagar te amo e às vezes depressa,
meu amor, e às vezes faço coisas que não devo,
regresso devagar a tua casa,
compro um livro, entro no amor como em casa.

segunda-feira, outubro 27, 2025

Cópia Fiel

 Cópia Fiel é um filme (drama) realizado por Abbas Kiarostami e que conta no elenco com: Juliette Binoche, William Shimell, Adrian Moore e Jean-Claude Carrière.

Cópia Fiel (2011) foi o penúltimo filme do brilhante realizador iraniano Abbas Kiarostami, dono de umavdas filmografias mais notáveis da história do cinema. Mesmo próximo do final da sua carreira, Kiarostami continuou a fazer aquilo que se acostumou a fazer, uma obra-prima.

Sinopse:
James Miller (William Shimell) é um filósofo inglês que vai a uma pequena cidade da Toscânia apresentar o seu livro sobre o valor da cópia na arte. Ao chegar lá, encontra Elle (Juliete Binoche), uma francesa que é dona de uma galeria de arte há muitos anos, e que vive com o filho pré-adolescente (Adrian Moore). Passam a tarde juntos. Ao mesmo tempo que se vão conhecendo, começam a desenvolver um complexo jogo de interpretação de personagens.

domingo, outubro 26, 2025

Os Mitos da Geografia,

Os Mitos da Geografia - Oito Maneiras de Entender o Mundo de Forma Errada, é um livro de Paul Richardson.

Paul Richardson é Professor Adjunto de Geografia Humana na Universidade de Birmingham, no Reino Unido. É um académico de renome na área da Geografia e dos Estudos Russos, e o atual Presidente da Associação para os Estudos das Fronteiras.

Sinopse:
Os nossos mapas podem já não ser dominados por dragões e monstros, mas as nossas percepções do mundo continuam a ser moldadas por mitos geográficos. Mitos como o de que a Europa é o centro do mundo, que os muros nas fronteiras são a solução para a imigração, ou que a Rússia está predestinada a ameaçar os seus vizinhos.

Neste livro, Paul Richardson desafia os argumentos mais popularizados sobre o determinismo geográfico, mostrando que a forma como o mundo é representado não  significa verdadeiramente, na sua maioria, que o mapa em si seja o território.

Oito capítulos muito bem fundamentados que põem em causa suposições há muito defendidas como:

O mito dos continentes e por que razão não correspondem à realidade
O mito das fronteiras e porque é que muros como os de Trump não funcionam
O mito da nação e as fronteiras difusas
O mito da soberania e a recuperação do controlo
O mito do crescimento económico e porque não vale a pena morrer por ele
O mito do inevitável expansionismo da Rússia
O mito da nova Rota da Seda da China
O mito de uma África condenada