O cobrão é o nome que o povo dá a uma doença de pele caracterizada pelo aparecimento de pequenas vesículas que surgem, segundo a crença, devido à circunstância das roupas interiores, quando se encontram a secar, terem estado em contacto com qualquer bicho peçonhento: cobra, osga, lagarto ou lagartixa, bichos esses que nelas deixaram, como se diz em Cebolais de Cima, o seu rastejo.
É o veneno contido nesse rasto que, em contacto com a pele, desencadeia a doença. Para curar o doente rezava-se um responso.
O cobrão nada mais é que a designação para a zona (Herpes zoster), uma erupção cutânea (que dá muitas dores) provocada pelo mesmo vírus que origina a varicela.
O responso ao cobrão (ou sapoulo, lagartão, etc.) é uma forma de reza ou "ensalmo" tradicionalmente utilizada em Portugal para afastar o "cobrão" ou outras coisas semelhantes.
O ritual consiste em rezar uma oração (como pode ver nos vídeos abaixo) e, ao mesmo tempo, fazer o sinal da cruz com um objeto (faca, espeto) sobre a área afetada, imaginando-se que se está a cortar o "cobrão".
O gesto enfeitiçante é o sinal da cruz: ao fazer-se a cruz sobre qualquer coisa atraem-se as forças mágicas dos quatro pontos cósmicos, ideia reforçada pelo facto de o sentido esquerda - direita, ao qual o sinal da cruz obedece, representar simbolicamente o passar da morte à vida.
A utilização do mel e das cinzas das réstias de alho, em conjunto com a fórmula libertadora, mostra uma dupla intenção: a de desligar a pessoa do mal, por um lado, e a de curar, por outro com o auxílio do mel e das cinzas das palhas de alho.
Fonte deste último texto: "Dança, Canto e Trajos no Concelho de Castelo Branco", Adelino José Henrique Carrilho e Mónica Liliana Martins Henrique Carrilho. O responso que se segue, serve para cortar o cobrão, e ainda é utilizado na Ferraria de São João. Este responso deve ser efetuado com um espeto de madeira, previamente afiado com uma faca, fazendo sucessivos sinais da cruz sobre o local de ocorrência do cobrão.
É cobra ou cobrão ou sapoulo ou sapolão.
Eu te corto o vão, o são, a raíz do espinhaço e
adiante não vás, atrás não voltes,
onde estás, aí morras.
Veja agora um outro responso ao cobrão rezado por Esmeralda Martins.
E agora o responso de
Isaura Marta.