sábado, novembro 16, 2019

Testamento

Oiça a fadista portuguesa Teresa Tarouca, recentemente falecida, em Testamento, um belíssimo poema de Alda Lara, com música do Fado Menor e acompanhada pelo Conjunto de Guitarras de Raul Nery.
Teresa  Tarouca (1942 - 2019), foi uma fadista portuguesa. Recebeu o Prémio da Imprensa (1964) na categoria "Fado". Oriunda de uma família ligada à música (é prima de Frei Hermano da Câmara e prima afastada de Maria Teresa de Noronha) adoptou o nome de Teresa Tarouca, devido à sua ascendência relacionada com os condes de Tarouca.

À prostituta mais nova,
do bairro mais velho e escuro,
deixo os meus brincos lavrados
em cristal, límpido e puro…

E àquela virgem esquecida
rapariga sem ternura,
sonhando algures uma lenda,
deixo o meu vestido branco,
o meu vestido de noiva,
todo tecido de renda…

Este meu rosário antigo,
ofereço-o àquele amigo
que não acredita em Deus…

E os livros, rosários meus
das contas de outro sofrer,
são para os homens humildes,
que nunca souberam ler.

Quanto aos meus poemas loucos,
esses, que são de dor
sincera e desordenada…
esses, que são de esperança,
desesperada mas firme,
deixo-os a ti, meu Amor…

Para que, na paz da hora,
em que a minha alma venha
beijar de longe os teus olhos,

vás por essa noite fora…
com passos feitos de lua,
oferecê-los às crianças
que encontrares em cada rua…
Lisboa, 1950 - Alda Lara (Poemas – Obra Completa de Alda Lara, Editora Capricórnio, Lobito 1973)

sexta-feira, novembro 15, 2019

Cavalos de Guerra




Assista ao trailer do filme Cavalos de Guerra (Ria Formosa), que vai estrear brevemente.
"Aquela que foi considerada a maior comunidade de cavalos-marinhos do mundo, enfrenta hoje sérios riscos de desaparecimento.
Uma equipa de mergulhadores, fotógrafos e cientistas embarcam numa missão pelas águas labirínticas da ria Formosa, com o objetivo de salvar um dos tesouros mais valiosos de Portugal, o enigmático cavalo dos mares."

quinta-feira, novembro 14, 2019

Terror de Te Amar

Terror de te amar num sítio tão frágil como o mundo

Mal de te amar neste lugar de imperfeição
Onde tudo nos quebra e emudece
Onde tudo nos mente e nos separa.

Que nenhuma estrela queime o teu perfil
Que nenhum deus se lembre do teu nome
Que nem o vento passe onde tu passas.

Para ti eu criarei um dia puro
Livre como o vento e repetido
Como o florir das ondas ordenadas.
Sophia de Mello Breyner Andresen -  "Obra Poética"

terça-feira, novembro 12, 2019

Chimes of Freedom

Ainda a propósito dos 30 anos da Queda do Muro de Berlim, assista a um momento histórico que ocorreu em Julho de 1988.
Um ano antes da Queda do Muro da Vergonha, entre  200.000 e 300.000 alemães de Berlim Leste,  testemunharam um concerto histórico. Bruce Springsteen atuou em Berlim Leste e fez um pequeno discurso em alemão onde, tal como lhe tinham recomendado, não utilizou a palavra Muro, mas, em sua substituição utilizou a palavra "barreiras".
Ouça, em baixo, ao discurso de Bruce Springsteen antes de cantar Chimes of Freedom (Berlim Oriental, 1988)
Far between sundown's finish an' midnight's broken toll
We ducked inside the doorway, thunder crashing
As majestic bells of bolts struck shadows in the sounds
Seeming to be the chimes of freedom flashing
Flashing for the warriors whose strength is not to fight
Flashing for the refugees on the unarmed road of flight
An' for each an' ev'ry underdog soldier in the night
An' we gazed upon the chimes of freedom flashing
Through the city's melted furnace, unexpectedly we watched
With faces hidden as the walls were tightening
As the echo of the wedding bells before the blowin' rain
Dissolved into the bells of the lightning
Tolling for the rebel, tolling for the rake
Tolling for the luckless, the abandoned an' forsakened
Tolling for the outcast, burnin' constantly at stake
An' we gazed upon the chimes of freedom flashing
Through the mad mystic hammering of the wild ripping hail
The sky cracked its poems in naked wonder
That the clinging of the church bells blew far into the breeze
Leaving only bells of lightning and its thunder
Striking for the gentle, striking for the kind
Striking for the guardians and protectors of the mind
An' the poet and the painter far behind his rightful time
An' we gazed upon the chimes of freedom flashing
In the wild cathedral evening the rain unraveled tales
For the disrobed faceless forms of no position
Tolling for the tongues with no place to bring their thoughts
All down in taken-for-granted situations
Tolling for the deaf an' blind, tolling for the mute
For the mistreated, mateless mother, the mistitled prostitute
For the misdemeanor outlaw, chaineded an' cheated by pursuit
An' we gazed upon the chimes of freedom flashing
Even though a cloud's white curtain in a far-off corner flared
An' the hypnotic splattered mist was slowly lifting
Electric light still struck like arrows, fired but for the ones
Condemned to drift or else be kept from drifting
Tolling for the searching ones, on their speechless, seeking trail
For the lonesome-hearted lovers with too personal a tale
An' for each unharmful, gentle soul misplaced inside a jail
An' we gazed upon the chimes of freedom flashing
Starry-eyed an' laughing as I recall when we were caught
Trapped by no track of hours for they hanged suspended
As we listened one last time an' we watched with one last look
Spellbound an' swallowed 'til the tolling ended
Tolling for the aching whose wounds cannot be nursed
For the countless confused, accused, misused, strung-out ones an' worse
An' for every hung-up person in the whole wide universe
An' we gazed upon the chimes of freedom flashing

segunda-feira, novembro 11, 2019

O S. Martinho e a poesia popular

Em 1º lugar uma adivinha:

Tem casca bem guardada
Ninguém lhe pode mexer
Sozinha ou acompanhada
Em Novembro nos vem ver

Em seguida quadras que celebram o santo:

Dia 11 de Novembro
É o dia de S. Martinho
Come-se a castanha assada
E mais o caldo verdinho.

Como é bom comer
Castanhas assadas
E no magusto ver
As meninas coradas

O S. Martinho está a chegar
A lareira vou acender
Para as castanhas assar
E contigo as comer.

Estou de barriga cheia
E a festa já acabou
Adeus S. Martinho
Para o ano também cá estou

domingo, novembro 10, 2019

Berlim 1989

Assinalando a efeméride que ocorreu ontem, aqui lhe deixo uma poesia, escrita para o livro Dancing The Dream, de Michael Jackson: Berlim 1989.
É de referir que em 1988, um ano antes da queda do Muro de Berlim na Alemanha, Michael Jackson atuou com seu show Bad Tour no lado Ocidental.

Berlim 1989,

"Eles odiavam o Muro, mas o que poderiam fazer?
Ele era demasiado forte para ser derrubado. Eles temiam o Muro, mas isso não fazia algum sentido? Muitos que tentaram escalá-lo e foram mortos.
Eles desconfiavam do Muro, mas quem não o faria?
Seus inimigos se recusaram a derrubar um tijolo, não importando quanto tempo as negociações de paz se arrastassem.

O Muro riu de forma sombria. "Eu estou ensinando a vocês uma boa lição", ele se gabou. "Se vocês querem construir para a eternidade, não se incomode com as pedras. Ódio, medo e desconfiança são muito mais fortes."
Eles sabiam que o Muro estava certo e eles quase desistiram. Só uma coisa os impediu. Eles se lembraram de quem estava do outro lado. Avó, primo, irmã, esposa. rostos amados que ansiavam para serem vistos.
"O que está acontecendo?" o Muro perguntou, tremendo. Sem saber o que eles fizeram, eles estavam olhando através do Muro, tentando encontrar seus entes queridos. Em silêncio, de uma pessoa para outra, o amor manteve o seu trabalho invisível.
"Pare com isso!" o Muro gritou. "Eu estou caindo aos pedaços." Mas era tarde demais. Um milhão de corações tinham encontrado uns aos outros. O Muro tinha caído antes de ser derrubado."
Michael Jackson