sábado, maio 07, 2011

Makèzú

Kuakiè!!!... Makèzú, Makèzú..."

O pregão da avó Ximinha
É mesmo como os seus panos,
Já não tem a cor berrante
Que tinha nos outros anos.

Avó Xima está velhinha,
Mas de manhã, manhãzinha,
Pede licença ao reumâtico
E num passo nada prático
Rasga estradinhas na areia...

Lá vai para um cajueiro
Que se levanta altaneiro
No cruzeiro dos caminhos
Das gentes que vão p'a Baixa.

Nem criados, nem pedreiros
Nem alegres lavadeiras
Dessa nova geração
Das "venidas de alcatrão"
Ouvem o fraco pregão
Da velhinha quitandeira.

- "Kuakiè... Makèzú... Makèzú..."
- "Antão, véia, hoje nada?"
- "Nada, mano Filisberto...
Hoje os tempo tá mudado..."

- "Mas tá passá gente perto...
Como é aqui tás fazendo isso?"

- "Não sabe?! Todo esse povo
Pegó um costume novo
Qui diz qué civrização:
Come só pão com chouriço
Ou toma café com pão...

E diz ainda pru cima
(Hum... mbundo kène muxima...)
Qui o nosso bom makèzú
É pra veios como tu".

- "Eles não sabe o que diz...
Pru qué qui vivi filiz
E tem cem ano eu e tu?"

- "É pruquê nossas raiz
Tem força do makèzú!..."
Viriato da Cruz (poeta angolano)

sexta-feira, maio 06, 2011

How Many People Can Live on Planet Earth

Quando o documentarista David Attenborough nasceu éramos pouco menos de 2 biliões de pessoas em todo o planeta. Atualmente a população mundial é de cerca de 7 biliões de pessoas. A vida de Attenborough foi em boa parte dedicada ao acompanhamento da vida selvagem, no entanto, também se preocupou com o impacto do aumento populacional. Assim, ingressou na organização Optimum Population Trust, que tem como meta avaliar esta situação. Por volta de 1800 éramos não mais do que 1 bilião de pessoas. O acesso ao controle de doenças, a diminuição da mortalidade e a melhoria da qualidade de vida causaram uma violenta explosão populacional. Mas a Terra, certamente, possui um limite físico para a produção de recursos. O primeiro alarme que soa vem da escassez de água em diversos países. Não só este alarme está a tocar, como outro já começa a fazer-se ouvir, o da falta de áreas propícias para a prática de uma agricultura economicamente viável. E, o sinal vem de um fluxo de investidores de países desenvolvidos que compram terras em países mais pobres para uma produção exclusivamente voltada para a exportação, sem os benefícios desejados para a população local. Algumas iniciativas de controle populacional, foram feitas, infelizmente, de maneira autoritária. Ninguém gosta que se lhe diga quantos filhos deve ter ou de ver a sua vida pessoal devassada. Iniciativas mais inteligentes e planeadas demonstraram, de maneira quase óbvia, que a educação é o fator que mais influencia na decisão de uma família em optar por ter menos filhos. As mulheres estão na linha da frente neste poder de decisão. A educação de uma mulher provoca uma visível tendência em planear melhor a vida antes de esta ter o primeiro filho. David Attenborough encerra este documentário "How Many People Can Live on Planet Earth?" comentando que os dados fornecidos podem ser desanimadores e neste caso a melhor maneira de encarar a situação é com o máximo de planeamento, preferencialmente feito de maneira racional. É que embora a maior parte do crescimento da população provenha do mundo em desenvolvimento, é o estilo de vida de muitos países do ocidente que mais danos causa ao nosso planeta.
Assista agora a este excelente documentário (em seis partes). É um bocadinho longo, mas, olhe que vale a pena. Dá que pensar.

quinta-feira, maio 05, 2011

A Língua Portuguesa


"Uma língua é o lugar donde se vê o mundo e em que se traçam os limites do nosso pensar e sentir. Da minha língua vê-se o mar. Da minha língua ouve-se o seu rumor, como da de outros se ouvirá o da floresta ou o silêncio do deserto. Por isso, a voz do mar foi a da nossa inquietação".
Virgílio Ferreira

Hoje (5 de maio) comemora -se o Dia da Língua Portuguesa e da Cultura. Esta comemoração é promovida pela CPLP e celebrada em todo o espaço lusófono.
A língua portuguesa é uma língua românica que se originou no que é hoje a Galiza e o norte de Portugal. Deriva do latim vulgar que foi introduzido no oeste da península Ibérica há cerca de dois mil anos. Tem um substrato céltico/lusitano, resultante da língua nativa dos povos pré-romanos que habitavam a parte ocidental da península (Galaicos, Lusitanos, Célticos e Cónios). O nosso idioma espalhou-se pelo mundo nos séculos XV e XVI quando Portugal estabeleceu um império colonial e comercial (1415-1999) que se estendeu do Brasil, na América, a Goa, na Ásia (Índia, Macau na China e Timor-Leste). O português foi utilizado como língua franca exclusiva na ilha do Sri Lanka por quase 350 anos. Durante esse tempo, muitas línguas (cerca de vinte) crioulas baseadas no português também apareceram em todo o mundo, especialmente na África, na Ásia e nas Caraíbas.
Com mais de 240 milhões de falantes, é a quinta língua mais falada no mundo. É também a 5ª mais usada na Internet e a mais falada no hemisfério sul. É a língua oficial em Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Macau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe, Timor-Leste e, desde 13 de julho de 2007, na Guiné Equatorial. É ainda falada nos antigos territórios da Índia Portuguesa (Goa, Damão, Ilha de Angediva, Simbor, Gogolá, Diu e Dadrá e Nagar-Aveli) e em pequenas comunidades que faziam parte do Império Português na Ásia como Malaca (Malásia) e na África Oriental como Zanzibar (Tanzânia). Possui estatuto oficial na União Europeia, no Mercosul, na União Africana, na Organização dos Estados Americanos, na União Latina, na Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) e na Associação dos Comités Olímpicos de Língua Oficial Portuguesa (ACOLOP).
É uma importante língua minoritária em Andorra, Luxemburgo, Paraguai, Uruguai, Namíbia, Maurícia, Suíça e África do Sul. Além disso, encontram-se em várias localidades no mundo numerosas comunidades de emigrantes, onde se fala o português, como em Paris, na França, Hamilton, nas Ilhas Bermudas, Toronto, Hamilton, Montreal e Gatineau no Canadá, Boston, Nova Jérsei e Miami nos EUA e nas províncias de Aichi, Shizuoka, Gunma e Mie, no Japão.
Assim como os outros idiomas, o português sofreu uma evolução histórica, sendo influenciado por vários idiomas e dialetos, até chegar ao estágio conhecido atualmente.
O português é conhecido como "A língua de Camões" (em homenagem a Luís Vaz de Camões, escritor português, autor de Os Lusíadas).

quarta-feira, maio 04, 2011

A Estrada da Morte

Na altiva cordiheira dos Andes Bolivianos encontra-se uma espetacular e vertiginosa estrada. É a Estrada dos Yungas, conhecida como Estrada da Morte. Localiza-se na parte boliviana dos Andes e liga La Paz a Coroico. Foi construída por prisioneiros paraguaios alguns dos quais morreram durante a fase de construção. Esta estreitíssima estrada que ousa ter dois sentidos é considerada a estrada mais perigosa do mundo. Nalguns trechos, não cabe sequer um carro e mesmo assim continua a ter dois sentidos. O perigo de morte está em cada curva ou em cada metro que é percorrido, pois, tem desníveis que chegam a uma altura de cerca 3600 m e abismos que atingem os 800 metros. Em cada 2 semanas acontece ali um acidente mortal. Ao longo dos seus cerca de 64 km morrem, todos os anos, entre 200 a 350 pessoas. Em 1995, o Banco Interamericano de Desenvolvimento de La Paz (Coroico) declarou esta rota como a “mais perigosa estrada do mundo.” Ao longo da Estrada dos Yungas há as conhecidas “Santas Cruzes”. Estas significam que alguém morreu naquele trecho de estrada.
Ora veja!

terça-feira, maio 03, 2011

Horror


Proponho-lhe que assista a um vídeo com imagens inéditas do tsunami, avançando terra dentro, que ocorreu no Japão. O maremoto (visto de frente) que arrasou a costa nordeste do Japão após o sismo de 11 de Março nunca tinha sido mostrado desta forma, como neste vídeo colocado no Youtube.
As imagens foram filmadas a partir da escola secundária de Shizugawa, na zona sul de Sanriku.
No vídeo, podemos ouvir a preocupação e horror das pessoas que ali se encontravam à medida que a onda arrasta e arrasa tudo o que que está à sua frente.

segunda-feira, maio 02, 2011

A minha Juventude

Na minha juventude antes de ter saído
Da casa de meus pais disposto a viajar
Eu conhecia já o rebentar do mar
Das páginas dos livros que já tinha lido
Chegava o mês de Maio era tudo florido
O rolo das manhãs punha-se a circular
E era só ouvir o sonhador falar
Da vida como se ela houvesse acontecido
E tudo se passava numa outra vida
E havia para as coisas sempre uma saída
Quando foi isso?
Eu próprio não o sei dizer
Só sei que tinha o poder duma criança
Entre as coisas e mim havia vizinhança
E tudo era possível era só querer
Ruy Belo

domingo, maio 01, 2011

Poema à Mãe

No mais fundo de ti,
eu sei que traí, mãe

Tudo porque já não sou
o retrato adormecido
no fundo dos teus olhos.

Tudo porque tu ignoras
que há leitos onde o frio não se demora
e noites rumorosas de águas matinais.

Por isso, às vezes, as palavras que te digo
são duras, mãe,
e o nosso amor é infeliz.

Tudo porque perdi as rosas brancas
que apertava junto ao coração
no retrato da moldura.

Se soubesses como ainda amo as rosas,
talvez não enchesses as horas de pesadelos.

Mas tu esqueceste muita coisa;
esqueceste que as minhas pernas cresceram,
que todo o meu corpo cresceu,
e até o meu coração
ficou enorme, mãe!

Olha — queres ouvir-me? —
às vezes ainda sou o menino
que adormeceu nos teus olhos;

ainda aperto contra o coração
rosas tão brancas
como as que tens na moldura;

ainda oiço a tua voz:
Era uma vez uma princesa
no meio de um laranjal...

Mas — tu sabes — a noite é enorme,
e todo o meu corpo cresceu.
Eu saí da moldura,
dei às aves os meus olhos a beber,

Não me esqueci de nada, mãe.
Guardo a tua voz dentro de mim.
E deixo-te as rosas.

Boa noite. Eu vou com as aves.
Eugénio de Andrade, in "Os Amantes Sem Dinheiro"

Poema de Maio

Maio maduro Maio
Quem te pintou
Quem te quebrou o encanto
Nunca te amou
Raiava o Sol já no Sul
E uma falua vinha
Lá de Istambul
Sempre depois da sesta
Chamando as flores
Era o dia da festa
Maio de amores
Era o dia de cantar
E uma falua andava
Ao longe a varar
Maio com meu amigo
Quem dera já
Sempre depois do trigo
Se cantará
Qu'importa a fúria do mar
Que a voz não te esmoreça
Vamos lutar
Numa rua comprida
El-rei pastor
Vende o soro da vida
Que mata a dor
Venham ver,
Maio nasceu Que a voz não te esmoreça
A turba rompeu
José Afonso