sexta-feira, outubro 14, 2022

Jogo do Lenço

Ouça o poema do Prémio Nobel da Literatura Portuguesa, José Saramago, "Jogo do Lenço", cantado por Luis Pastor.

Trago no bolso do peito

Um lenço de seda fina,

Dobrado de certo jeito.

Não sei quem tanto lhe ensina

Que quanto faz é bem feito.


Acena nas despedidas,

Quando a voz já lá não chega

Por distâncias desmedidas.

Depois, no bolso aconchega

As saudades permitidas.


Também o suor salgado,

Às vezes, enxugo a medo,

Que o lenço é mal empregado.

E quando me feri um dedo,

Com ele o trouxe ligado.

Nunca mais chegava ao fim

Se as graças todas dissesse

Deste meu lenço e de mim,

Mas uma coisa acontece

De que não sei porque sim:




Quando os meus olhos molhados

Pedem auxílio do lenço,

São pedidos escusados.

E é bem por isso que penso

Que os meus olhos, se molhados,

Só se enxugam no teu lenço.

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