sábado, outubro 24, 2020

(Porto – cidade de luz de granito)

 

(O Eugénio de Andrade espera-me num Café.

Atravesso as ruas do Porto – a cidade onde

nasci – com os punhos cerrados de dor.)


Não nasci por acaso nestas pedras

mas para aprender dureza,

lume excedido,

coragem de mãos lúcidas.


Aqui no avesso da construção dos tempos

a palavra liberdade

é menos secreta.


Anda nos olhos da rua

pega lanças aos gestos,

tira punhais das lágrimas,

conclui as manhãs.

Porto - Ester Durães

E  principalmente

não cheira a museu azedo

ou musgo embalado

pela chuva da boca dos mortos.


Começa nos cabelos das crianças

para me sentir mais nascido nestas pedras.


Porto

 – cidade de luz de granito.


Tristeza de luz viril

com punhos de grito.

José Gomes Ferreira - Daqui Houve Nome Portugal (antologia de verso e prosa sobre o porto

organizada e prefaciada por Eugénio de Andrade) - editorial inova - 1968

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