terça-feira, julho 08, 2025

Pregões Matinais

 Passo às vezes na cama um dia inteiro
de papo para o ar, como um madraço …
Fumando qual filósofo ou palhaço,
Sem mulher… sem cuidados… sem dinheiro!

É de manhã então que me é fagueiro
Ouvir trinar no cristalino espaço
Um pregão mais macio que um regaço,
Que se esvai a carpir… como um boieiro…

De manhã é que passa a leiteirinha,
Com seu pregão chilrado de andorinha,
Passam varinas de gargantas sãs…

E ao escutar tais cantantes semifusas,
Eu creio que oiço ao longe as frescas Musas,
A vender uvas e a pregoar maçãs.
Gomes Leal (1848-1921) -  «Mefistófeles em Lisboa», 1907

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