sábado, março 08, 2025

Menina e Moça

Três Meninas - Maria Julia de Almeida Caseiro 

Hoje dia 8 de março, celebra-se o Dia Internacional da Mulher, símbolo de luta e de igualdade.

Muitos poetas encontraram e encontram a sua inspiração na mulher, exaltando a sua beleza e a sua personalidade.

Assinalando este dia, proponho-lhe a leitura de um poema do escritor brasileiro Machado de Assis: Menina e Moça.

«Está naquela idade inquieta e duvidosa,
Que não é dia claro e é já o alvorecer;
Entreaberto botão, entrefechada rosa,
Um pouco de menina e um pouco de mulher.

  Às vezes recatada, outras estouvadinha,
Casa no mesmo gesto a loucura e o pudor;
Tem coisas de criança e modos de mocinha,
Estuda o catecismo e lê versos de amor.

 Outras vezes valsando, e seio lhe palpita,
De cansaço talvez, talvez de comoção.
Quando a boca vermelha os lábios abre e agita,
Não sei se pede um beijo ou faz uma oração.

 Outras vezes beijando a boneca enfeitada,
Olha furtivamente o primo que sorri;
E se corre parece, à brisa enamorada,
Abrir asas de um anjo e tranças de uma huri.

  Quando a sala atravessa, é raro que não lance
Os olhos para o espelho; e raro que ao deitar
Não leia, um quarto de hora, as folhas de um romance
Em que a dama conjugue o eterno verbo amar.

  Tem na alcova em que dorme, e descansa de dia,
A cama da boneca ao pé do toucador;
Quando sonha, repete, em santa companhia,
Os livros do colégio e o nome de um doutor.

  Alegra-se em ouvindo os compassos da orquestra;
E quando entra num baile, é já dama do tom;
Compensa-lhe a modista os enfados da mestra;
Tem respeito a Geslin, mas adora a Dazon.

Alexandra Jagoda
  Dos cuidados da vida o mais tristonho e acerbo
Para ela é o estudo, exceptuando talvez
A lição de sintaxe em que combina o verbo
To love, mas sorrindo ao professor de inglês.

  Quantas vezes, porém, fitando o olhar no espaço,
Parece acompanhar uma etérea visão;
Quantas cruzando ao seio o delicado braço
Comprime as pulsações do inquieto coração!


  Ah! se nesse momento alucinado, fores
Cair-lhes aos pés, confiar-lhe uma esperança vã,
Hás-de vê-la zombar dos teus tristes amores,
Rir da tua aventura e contá-la à mamã.

  É que esta criatura, adorável, divina,
Nem se pode explicar, nem se pode entender:
Procura-se a mulher e encontra-se a menina,
Quer-se ver a menina e encontra-se a mulher! »
Machado de Assis

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