quinta-feira, janeiro 05, 2023

Sonetos do Regresso

I

Volto contigo à terra da ilusão,
mas o lar de meus pais levou-o o vento
e se levou a pedra dos umbrais
o resto é esquecimento:

procurar o amor neste deserto
onde tudo me ensina a viver só
e a água do teu nome se desfaz
em sílabas de pó

é procurar a morte apenas,
o perfume daquelas
longínquas açucenas

abertas sobre o mundo como estrelas:
despenhar no meu sono de criança
inutilmente a chuva da lembrança.
II

Acordar, acender
o rápido lampejo
na água escusa onde rola submersa
como o lodo no Tejo

a vida informe, peso dúbio
desse cardume denso ou leve
que nasce em mim para morrer
no mar da noite breve;

dormir o pobre sono
dos barbitúricos piedosos
e acordar, acender

os tojos caudalosos
nesta areia lunar
ou, charcos, nunca mais voltar.

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