sábado, novembro 12, 2022

No Tempo do Caprandanda ou Kapalandanda?

Já alguma vez ouviu a expressão: no tempo do Caprandanda? É provável que sim. Contudo dever-se-ia dizer No Tempo do Kapalandanda. Porquê?

Segundo dizem os entendidos o correto seria escrever/dizer Kapalandanda, porque não existe a letra "R" na língua Umbundu, ao passo que o "C" é pronunciado [t∫i], e como tal diferente de "K".

Mas, quem foi Kapalandanda? Quem foi esta personagem que faz parte do cancioneiro Umbundu? 

A música dizia: "Kapalandanda walila / walilila ofeka yaye/ kapalandanda walila /eh/ walilila ofeka yaye"  (Kapalandanda chorou / chorou pela sua Terra/ Kapalandanda chorou / oh/ chorou pela sua Terra). 

Mas quem foi ele e porque chorou? 

Para perceber quem foi esta personagem e as suas façanhas deixo-lhe aqui em baixo o valioso contributo de Carlos Duarte, publicado no «Jornal o Chá», da Chá de Caxinde, Nº 10 - 2ª série, Luanda, Abril/Maio 2014.

"Kapalandanda era sobrinho do Soba Kulembe, da Catumbela. Ia ser Soba. Agiu de 1874-1886. Adolescente, ganhou fama por ter morto sozinho um leopardo que andava a comer as cabras (…) Ainda jovem, inconformado com a passagem e estadia de caravanas de (…) comércio, levando panos e sal para o Huambo – Bailundos – e trazendo borracha, cera, mel e marfim – sem pagamento, pediu uma audiência ao Soba, seu tio, e aos sekulus, onde tentou convencê-los a que fosse cobrada uma taxa – «Onepa» - a essas caravanas. O Soba, acomodado e com medo da reação dos colonos, não concordou. Kapalandanda então reuniu um grupo de guerreiros e foi para o mato, armar emboscadas e assaltar as caravanas, cujo produto, confiscado, era em parte distribuído pelos kimbos do sobado.

Quando os colonizadores tomaram conhecimento, foram falar com o Soba para que tomasse providências e acabasse com essa resistência. O Soba reuniu os melhores guerreiros e ordenou-lhes que fossem pegar Kapalandanda. Mas o resultado foi o contrário do previsto. O grupo de Kapalandanda dominou e derrotou fácil os guerreiros de Kulembe. Os colonizadores resolveram então fornecer armas de fogo o Kulembe, acreditando que, com essa vantagem, acabariam com o grupo guerrilheiro.

Mas Kapalandanda, agindo como um Robin Hood angolano, tinha já granjeado a simpatia de grande parte dos kimbos do sobado; então, emissários dos kimbos saíam para avisá-lo da movimentação das forças de Kulembe, o que lhe deu condições de espera-las para o confronto, em local que lhe era propício, anulando assim a vantagem das armas de fogo.

Uma vez mais a tropa de Kulembe foi derrotada, e Kapalandanda ficou melhor armado. Os colonizadores resolveram então enviar uma companhia de tropa portuguesa, comandada por um capitão de nome Almeida, para submeter Kapalandanda. O encontro deu-se no Sopé do Passe. O grupo de Kapalandanda saiu derrotado e ele levado preso, primeiro para o Forte da Catumbela, e depois para S. Tomé."

Tomás Gavino Coelho (nome grande da literatura angolana), pesquisou este assunto e chegou à seguinte conclusão: 

"Este escrito é do benguelense Augusto Thadeu Bastos (1873-1936), e descreve como o Kapalandanda era visto pelo poder colonial". 

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