
Na Póvoa de Varzim, a população e empresas preferem trabalhar na Sexta-Feira Santa, feriado nacional, e ter a segunda-feira de folga para poder fazer o seu piquenique.
Esta festividade popularizada na Festa da Hera dos anos 20 do século XX, possuiu algumas reminiscências de cultos pagãos, iniciada com a ida tradicional da população da Póvoa de Varzim às bouças do Anjo, como é conhecida a freguesia de Argivai (paróquia de São Miguel - o Anjo), onde parte da população tinha origem.
Argivai é paróquia desde a época medieval e foi também uma antiga freguesia civil. Teve esse estatuto civil entre 1836 e 1842 e, pela última vez, entre c. 1853 e 2013. É, pois, uma das freguesias eclesiásticas da cidade da Póvoa de Varzim, e está dividida em duas partes: Argivai e Gândara.
A Argivai estão associadas devoções religiosas poveiras, como o Senhor dos Milagres, Nossa Senhora do Bom Sucesso e o Dia do Anjo.
Porquê Festa da Hera?
A Hera é uma planta muito comum na Póvoa de Varzim. Encontra-se com grande frequência nos muros graníticos que dividem os campos rurais. Na Páscoa, quando chega a primavera, adquirem simbolismo, aquando da visita do compasso com a cruz dando a "boa nova" a cada casa, a população espalha folha de hera em frente à porta de suas casas para serem calcadas pelo compasso. Estas folhas espalhadas pelas ruas podem também formar caminhos, por onde deve passar o compasso ao passar a rua, visitando todas as casas com a porta aberta. A colocação das folhas depende do brio dos residentes de cada rua.
O Dia do Anjo era também um dia dos namorados. Os estudantes e outros rapazes solteiros esperavam esse dia com ansiedade porque era o único dia que os pais davam inteira liberdade de manhã à noite. A meio do piquenique cantavam-se muitas músicas do cancioneiro poveiro que puxavam para a dança.
As raparigas, nos anos 20, para financiar os músicos dissidentes da Banda Poveira e que fundaram a Banda Povoense (popularmente Banda dos Passarinhos) aproveitaram a tradicional ida ao Anjo e colocavam-se à entrada das bouças, onde as famílias faziam os piqueniques, vendendo folhas de hera aos casais que passassem:
Quem pela hera passou
e uma folhinha não tirou,
ou
Quem me dera ser a hera
Pela parede subir
E espreitar à janela
Do teu quarto de dormir.
Levando a que os casais que passassem as comprassem. Os rapazes colocavam uma folha no chapéu ou no bolso do casaco e as raparigas prendiam-nas ao peito.
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