Assista ao vídeo Medo do Medo, de Capícua (com Beat de João Ruas), com realização de Vasco Mendes.
Ouve o que eu te digo, vou-te contar um segredo,
é muito lucrativo que o mundo tenha medo,
medo da gripe, são mais uns medicamentos,
vem outra estirpe reforçar os dividendos,
medo da crise e do crime como já vimos no filme,
medo de ti e de mim, medo dos tempos,
medo que seja tarde, medo que seja cedo
e medo de assustar-me se me apontares o dedo,
medo de cães e de insectos, medo da multidão,
medo do chão e do tecto, medo da solidão,
medo de andar de carro, medo do avião,
medo de ficar gordo velho e sem um tostão,
medo do olho da rua e do olhar do patrão
e medo de morrer mais cedo do que a prestação,
medo de não ser homem e de não ser jovem,
medo dos que morrem e medo do não!
Medo de Deus e medo da polícia,
medo de não ir para o céu e medo da justiça,
medo do escuro, do novo e do desconhecido,
medo do caos e do povo e de ficar perdido,
sozinho, sem guito e bem longe do ninho,
medo do vinho, do grito e medo do vizinho,
medo do fumo, do fogo, da água do mar,
medo do fundo do poço, do louco e do ar,
medo do medo, medo do medicamento,
medo do raio, do trovão e do tormento,
medo pelos meus e medo de acidentes,
medo de judeus, negros, árabes, chineses,
medo do "eu bem te disse", medo de dizer tolice,
medo da verdade, da cidade e do apocalipse,
o medo da bancarrota e o medo do abismo,
o medo de abrir a boca e do terrorismo.
Medo da doença, das agulhas e dos hospitais,
medo de abusar, de ser chato e de pedir demais,
de não sermos normais, de sermos poucos,
medo dos roubos dos outros e de sermos loucos,
medo da rotina e da responsabilidade,
medo de ficar para tia e medo da idade,
com isto compro mais cremes e ponho um alarme,
com isto passo mais cheques e adormeço tarde,
se não tomar a pastilha, se não ligar à família,
se não tiver um gorila à porta de vigília,
compro uma arma, agarro a mala, fecho o condomínio,
olho por cima do ombro, defendo o meu domínio,
protejo a propriedade que é privada e invade-me
a vontade de por grade à volta da realidade,
do país e da cidade, do meu corpo e identidade,
da casa e da sociedade, família e cara-metade...
tenho tanto medo... nós temos tanto medo... tenho tanto medo...
Refrão:
o medo paga a farmácia, aceita a vigilância,
o medo paga à máfia pela segurança,
o medo teme de tudo por isso paga o seguro,
por isso constrói o muro e mantém a distância!
Eles têm medo de que não tenhamos medo!
Sem comentários:
Enviar um comentário