segunda-feira, junho 08, 2020

O Mar

Necessito do mar porque me ensina:

não sei se aprendo música ou consciência:

não sei se é onda ou ser profundo

somente rouca voz ou deslumbrante

suposição de peixes e navios.

O fato é que até quando estou dormindo

de algum modo magnético circulo

na universidade do marulho.


Não somente conchas trituradas

como se algum planeta estremecido

participara paulatina morte,

não, do fragmento reconstruo este dia,

de um cavaco de sal e estalactite

de uma colherada o deus imenso.


O que antes me ensinou eu guardo! É ar,

um incessante vento de água e areia.


Parece pouco para um homem jovem

que aqui chegou para viver seus incêndios,

e no entanto era um pulso que subia

e descia ao seu abismo,

o frio do azul que crepitava,

o desmoronamento de uma estrela,

o terno desprender-se de uma onda

desperdiçando neve com a espuma,

o poder quieto, ali, determinado

como um trono de pedra no profundo,

substituiu o lugar que acreditavam

tristeza tenaz, amontoando olvido,

bruscamente mudou minha existência:

minha adesão ao puro movimento.
Pablo Neruda

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