A "Trova do Vento Que Passa ", é uma balada (de 1963) de António Portugal e Manuel Alegre, do disco "Fados de Coimbra", cantada por Adriano Correia de Oliveira.
Adriano Correia de Oliveira (1942 — 1982) foi um músico português, um intérprete do fado de Coimbra e um cantor de intervenção. Data de 1963 o seu primeiro EP, "Fados de Coimbra", no qual foi acompanhado por António Portugal e Rui Pato. Este álbum continha a interpretação de "Trova do Vento Que Passa", poema de Manuel Alegre, que se transformou numa espécie de hino da resistência dos estudantes à ditatura.
Em 1967 gravou o álbum "Adriano Correia de Oliveira", que, entre outras canções, tinha "Canção Com Lágrimas". Em 1970 troca Coimbra por Lisboa, exercendo funções no Gabinete de Imprensa da Feira Industrial de Lisboa, até 1974. Ainda em 1969 vê editado o álbum "O Canto e as Armas", revelando, de novo, vários poemas de Manuel Alegre.
Lança "Cantaremos", em 1970, e "Gente d' aqui e de agora", em 1971, este último com o arranjo de José Calvário e a composição de José Niza. Em 1973 lança o disco "Fados de Coimbra".
Participa na fundação da Cooperativa Cantabril, logo após a Revolução dos Cravos e edita, em 1975, "Que Nunca Mais", onde se inclui o tema "Tejo Que Levas as Águas". A revista inglesa Music Week elege-o Artista do Ano. Em 1980 lança o seu último álbum, "Cantigas Portuguesas".
Em 1982, vítima de uma hemorragia esofágica, morreu nos braços da sua mãe.
Em 1983 foi feito comendador da Ordem da Liberdade e em Abril de 1994 foi feito Grab«nde -Oficial da Ordem do Infante D. Henrique, em ambos os casos a título póstumo.
Fique em então com a "Trova do Vento que Passa" na voz de Adriano Correia de Oliveira.
Pergunto ao vento que passa
notícias do meu país
e o vento cala a desgraça
o vento nada me diz.
Pergunto aos rios que levam
tanto sonho à flor das águas
e os rios não me sossegam
levam sonhos deixam mágoas.
Levam sonhos deixam mágoas
ai rios do meu país
minha pátria à flor das águas
para onde vais? Ninguém diz.
Se o verde trevo desfolhas
pede notícias e diz
ao trevo de quatro folhas
que morro por meu país.
Pergunto à gente que passa
por que vai de olhos no chão.
Silêncio -- é tudo o que tem
quem vive na servidão.
Vi florir os verdes ramos
direitos e ao céu voltados.
E a quem gosta de ter amos
vi sempre os ombros curvados.
E o vento não me diz nada
ninguém diz nada de novo.
Vi minha pátria pregada
nos braços em cruz do povo.
Vi minha pátria na margem
dos rios que vão pró mar
como quem ama a viagem
mas tem sempre de ficar.
Vi navios a partir
(minha pátria à flor das águas)
vi minha pátria florir
(verdes folhas verdes mágoas).
Há quem te queira ignorada
e fale pátria em teu nome.
Eu vi-te crucificada
nos braços negros da fome.
E o vento não me diz nada
só o silêncio persiste.
Vi minha pátria parada
à beira de um rio triste.
Ninguém diz nada de novo
se notícias vou pedindo
nas mãos vazias do povo
vi minha pátria florindo.
E a noite cresce por dentro
dos homens do meu país.
Peço notícias ao vento
e o vento nada me diz.
Quatro folhas tem o trevo
liberdade quatro sílabas.
Não sabem ler é verdade
aqueles pra quem eu escrevo.
Mas há sempre uma candeia
dentro da própria desgraça
há sempre alguém que semeia
canções no vento que passa.
Mesmo na noite mais triste
em tempo de sevidão
há sempre alguém que resiste
há sempre alguém que diz não.
Intérprete: Adriano Correia de Oliveira
Música: António Portugal
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