segunda-feira, fevereiro 17, 2025

O Caso De D. Inês

Dona Inês vem a desoras
ao parque do seu solar.
Tão pálida! Por que choras,
princesa do Montealvar?

Estrela, por que descoras,
Por que palpitas, luar?

Canta o amor, e a cotovia
sente-se errante pelo ar.
Longe, uma estrela, dir-se-ia
Como um pássaro, trilar.

E Dona Inês que porfia
a ouvir a voz do luar!

Como um pesado obelisco,
levanta-se ao pé do mar,
um minarete mourisco,
E longe, sempre a brilhar.

Como um dourado asterisco
estrela ao pé do luar.

Dona Inês sempre ao relento,
vestida do verdemar.
Que frio, Jesus! Um vento
– que frio! – de assassinar!

Em cima, no firmamento
ainda a estrela, ainda luar!

Sinos de toda a Castela
sinistros a badalar!
Por que finou-se a donzela
tão pálida e singular?

Finou-se à voz do uma estrela;
finou-se à luz do luar.
Artur Lobo - Quermesses (1896)

Sem comentários: