Como quando indiscreto às coisas me insinuo
e de infinito amor lhes dou sentido
que de mim próprio é voz e precisão
de ser um ser que sendo as reconhece,
me vejo ambíguo e distraído e firme
na vã presciência que, rememorada,
é como um estar por sempre ininterrupto,
aliciando humanamente as coisas.
Mas, meu amor, por ti tudo contemplo.
Por ti penetro como em ti em tudo
e torno realidade este fortuito
encontro permanente de que vivo.
Se noutro mundo fora que existisses,
eu te criara neste e às minhas coisas.
Jorge de Sena,
Poesia-III - Moraes Editores, Lisboa, Maio/1978)
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