As freguesias da Charneca e Ameixoeira eram freguesias afastadas do centro da capital, fazendo parte da chamada "Região Saloia", que abastecia a cidade com os produtos das suas quintas e campos de cultivo, tendo permanecido lugares campestres até às primeiras décadas do século XX.
A Ameixoeira, com as suas quintas de recreio aristocráticas, casas campestres e clima ameno, era um local atrativo para as gentes de Lisboa. No século XIX, os lisboetas vinham para a Ameixoeira passar os meses de verão, alugando casas para o efeito. No início do século XX tornou-se o local favorito para repouso, de escritores, políticos e outras pessoas endinheiradas.
Das memórias destas épocas recuadas, restam os relatos das "idas às hortas", aos Domingos; da "espera de toiros" na Calçada de Carriche; e dos duelos em defesa da honra na Estrada Militar, ou na Azinhaga da Ameixoeira. Famoso nas duas freguesias era o "Vinho do Termo" que se cultivava, predominantemente, nas Quintas da Torrinha e da Mourisca, e que abastecia as tabernas e retiros da capital.
As hortas estão agora de novo na ordem do dia, destacando-se, para além do seu papel social, as suas vertentes recreativa e pedagógica. Sabia que as primeiras hortas urbanas formais da cidade de Lisboa surgiram no parque do Museu do Traje? E que há também hortas na Alta de Lisboa, em Benfica, em Telheiras, no Vale de Chelas (a maior horta urbana portuguesa) e nos Olivais, na Fábrica Braço de Prata?…
As hortas urbanas também se multiplicaram em Beja, Azambuja, Figueira da Foz, Coimbra, Porto, Braga e no Funchal, graças a múltiplas chamadas de atenção do arquiteto paisagista Gonçalo Ribeiro Telles que defendia a integração da ruralidade no interior da cidade sobretudo por razões históricas e culturais, referindo que foi a partir da agricultura que a cidade nasceu, assim como também valorizava o papel social destes espaços na subsistência dos agregados familiares de menores rendimentos.
"Aqui, neste vale (da Ameixoeira), onde ainda brota o liquido que irrigou ao longo de muito séculos hortas e pomares, vinhos e pastos que serviram de alimento a rebanhos da mais variada fauna do reino animal desde o velho forte da Ameixoeira até às entranhas do histórico Conselho de Santa Maria de Belém. Do conselho resta a história registada nos respectivos livros de memórias mas, as hortas poderão ser revividas para gáudio e satisfação a quem a elas queira aderir e dos visitantes".
O Parque Agrícola da Alta de Lisboa (PAAL), freguesia de Santa Clara (antigas Ameixoeira e Charneca), foi inaugurado em 2015, e é o primeiro Parque Agrícola de base comunitária, liderado pela Associação de Valorização Ambiental da Alta de Lisboa (AVAAL), um exemplo de envolvimento entre cidadãos e autarquias na definição de um novo modelo de gestão e participação no uso da estrutura ecológica.
A AVAAL – Associação para a Valorização Ambiental da Alta de Lisboa, é uma ONG de Ambiente, sendo a sua missão a "ecologia cívica", definida como o desenvolvimento social através da valorização ambiental em comunidades locais.
A 1ª fase do PAAL conta com uma área de cerca de 20.000 m2 e 100 hortelões instalados, e é já um espaço de referência na agricultura urbana comunitária nacional.
A 2ª fase previa a constituição de um espaço complementar à produção hortícola, sendo mais virada para a constituição de vinha, pomares, prados e matas, num todo de grande valor ecológico e social.
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