A "Ponte de Q’eswachaka" é uma ponte de "corda", feita de uma planta chamada "Q’oya icchu". O seu nome deriva do idioma quéchua e significa "Ponte de Corda Torcida".
Esta ponte é reconstruída todos os anos, manualmente, há pelo menos cinco séculos. Quem a reconstrói são as comunidades locais que vivem ao longo das margens do vale do rio Apurimac utilizando para isso técnicas da engenharia tradicional Inca.
Ela situa-se em Qehue (Perú), província de Canas, a aproximadamente 100km de Cusco. Mede 28,67 metros de comprimento, por 1,20 de largura e atravessa o rio Apurimac – a 3.700 m acima do nível do mar.
Acredita-se que seja a única sobrevivente deste tipo, em todo o mundo.
Faz parte do "Qhapaq Ñan", o "grande caminho Inca", um enorme sistema viário de mais de 30 mil km de extensão, construído pelos povos Incas, que ligava Cusco – capital do império Inca, a vários povos andinos do Peru, Argentina, Bolívia, Colômbia, Equador e Chile. A famosa "trilha inca", que vai de Cusco a Machu Picchu, é parte dessa rede.
Este tipo de ponte feita de corda não deixou de ser usado com a chegada dos espanhóis por ser uma boa alternativa às pontes de cimento e alvenaria, já que a sua estrutura móvel é especialmente resistente a fenómenos naturais comuns às regiões andinas, como terramotos e enchentes.
Em 2009 o "Ritual de Renovação da Ponte Q’eswachaka" e os conhecimentos associados à sua história e construção, foram declarados Património Cultural da Nação peruana, pelo Instituto Nacional de Cultura do Peru.
Á construção da ponte está, então, associado um Ritual de Renovação, que se prolonga por quatro dias. No segundo domingo do mês de junho, uma grande festa é realizada para comemorar a reconstrução da Ponte Q’eswachaka. Aproximadamente 1.000 homens e mulheres das comunidades de Huinchiri, Chaupibanda, Ccollana Quehue e Pelcaro reúnem-se para este ritual, que foi passado de geração para geração.
No 1º dia, logo ao amanhecer é celebrado um ritual ao apu Quinsallallawi por um Paqo (sacerdote andino). Ao mesmo tempo o qoya ichu – a palha dos planaltos que é a matéria-prima da ponte – que já foi antecipadamente apanhada pelas quatro comunidades, é empilhado e recolhido.
A palha é trançada pelas mulheres, em longas cordas chamadas de q’eswas (corda torcida), sob a supervisão de um chakaruwak (especialista ou "engenheiro inca").
No 2º dia,
a ponte antiga é desmontada, os pregos de pedra que sustentam a ponte são retirados e as quatro novas cordas que foram construídas no dia anterior são colocadas, pois serão a base da nova ponte.
No 3º dia
, é feita a construção da superfície e da grade da ponte e são encerrados os trabalhos.
No 4º dia, é feita a comemoração da construção da ponte com um grande festa com danças tradicionais e comidas típicas. Festejar o trabalho comunitário é mais uma das tradições dos povos Incas.
Aprecie, com atenção todo este processo e toda a beleza deste ritual, através do vídeo abaixo, que foi produzido pela Noonday Films para a exposição "National Museum of the American Indian": "The Great Inka Road: Engineering an Empire".
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