A minha proposta de hoje vai para o livro "Vai, Brasil" (edições Tinta da China), da minha ex-aluna, Alexandra Lucas Coelho.
Não perca, mais esta proposta de leitura.
"Português a falar brasileiro não tem jeito, mesmo quando tem. Mas o que não tem jeito mesmo é perder tempo a não ser entendido. Não vou subir a favela e dizer sítio quando posso dizer lugar, ou apelido quando posso dizer sobrenome, ou alcunha quando posso dizer apelido, ou apanhar o autocarro quando posso pegar o ônibus. Português a falar brasileiro nem é jeito de dizer, porque português e brasileiro falam sempre português, em toda a sua mestiça extensão. Nenhuma outra língua é tão falada no hemisfério sul. Finco os pés onde estou para a usar. Se não me esqueço de quem sou, porque terei medo do que serei? Muito do que hoje é brasileiro foi português antigo que Portugal perdeu, cardápio reduzido, falta de apetite. E eles continuam a vir, dietistas, higienistas, fiscais de contas, reduzindo a língua a um quartinho, e de colarinho: não respire, não respire. Ave a poesia, cheia de fome, Herberto Helder mais jovem que nunca, comendo a língua com travesti brasileiro e tudo." A.L.C.
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