quarta-feira, outubro 19, 2011

Último Beijo

Ouça o Último Beijo de Garda. Garda foi a primeira angolana a gravar um disco, mas, passou ao lado da fama por teimosia. Mais de 50 anos depois e já com 79 anos, regressou a estúdio.
Quando pequena colocava-se debaixo da mesa da sala dos pais, em Luanda, para ouvir os amigos da família cantarem e tocarem pela noite fora. "Muita tareia levei da minha mãe, de cada vez que ela descobria que, em vez de estar a dormir, estava ali debaixo da mesa."
"Comecei na música na brincadeira. Não tive professores. Em Angola, não havia academia. Aprendi tudo sozinha e depois fiz o conjunto com os meus irmãos, mas nunca pensei que iria ter projeção."
Hoje, quando a saúde lhe permite, organiza festas ou vagueia de bar em bar pela noite alfacinha, animando um séquito que a idolatra carinhosamente e muito lamenta a negação que ela faz da sua natureza artística.
Até se assustar com a sua hipertensão, fazia "diretas" de segunda a sábado: "Não descansava nada... Era um vai aqui e vai ali. Por isso é que digo que não sou artista. Sou uma louca por música. Uma doida, vadia, boémia, independente, despistada. Não tenho horários e gosto de fazer o que me apetece. Não gosto de me arranjar. Sou simples. Não sou coquete. Toco para a malta toda. Sou a velha vadia de Portugal."
Garda tem um fado corrido - que acabou por não ser incluído no seu último disco - que usa para se apresentar:
"Chamaste-me velha vadia
isso não importa nada
sou da noite
gosto de fado
sou vadia sim senhor
visto o meu camuflado
e aí vou eu
por ridículo que pareça
cá tenho a minha razão
assim não sou roubada nem violada
pois as velhas escapam à pedalada
Convento da Encarnação é a minha casa
hei de morrer a ouvir o fado vadio
sou vadia sim senhor
."
Ildegarda (Garda) Oliveira
Este Último Beijo de Garda é sensacional. Ora, ouça!

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