
"Em múltiplas ocasiões, o actual Presidente dos EUA tem declarado que a América é dos americanos, o que dá vontade de rir quando sabemos descender ele de emigrantes — a mãe era escocesa e o avô paterno alemão — e estar casado com alguém que nasceu na Eslovénia que então fazia parta da Jugoslávia. Apesar de não usar o termo, Trump é adepto do ‘nativismo’, uma corrente que subterraneamente atravessa a História daquele país. Os seus adeptos proclamam defender os interesses dos americanos contra os imigrantes, indiscriminadamente retratados como criminosos: todos os mexicanos seriam violadores e todos os muçulmanos terroristas.
A política contra a emigração de Trump, coroada pela promessa da construção de um muro que separe os EUA do México, tem sido amplamente criticada, mas ninguém o fez como Eça de Queiroz. Estou consciente de que este já morreu, mas posso, sem medo de errar, transmitir aos leitores o que pensaria das afirmações do actual Presidente dos EUA. Numa série de artigos, publicados num jornal brasileiro em 1896, eis a sua opinião relativamente à ideia da “América para os americanos”. Claro que existiam americanos, escreveu, mas estes não eram aqueles como tal considerados, mas sim os algonquins, os iroqueses, os apalaches, os incas, os caraíbas, os guaranis e toda a gente patagónica, isto é, os legítimos donos do território cujos desertos tinham povoado.

Faz agora 400 anos que um navio, o “Mayflower”, transportou para a então colónia inglesa 102 passageiros, a maioria dos quais eram puritanos que não desejavam integrar-se na Igreja Anglicana, tendo decidido trocar o seu país pelo Novo Mundo. Acontece que o continente onde se instalaram estava povoado.

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