Não perca. Olhe que vale mesmo a pena.
"Durante a Convenção do Bloco de Esquerda, o deputado Pedro Filipe Soares iniciou a sua
intervenção com o seguinte vocativo: “Camaradas e Camarados”. A expressão causou algum
espanto e não poucos sorrisos, mas não demorou muito tempo a percebermos que, para além de
se não tratar de um lapso, estávamos no limiar de um novo cenário civilizacional. Em artigo
publicado no jornal Público de 20 de Novembro, Pedro Filipe Soares justifica a originalidade
da expressão argumentando que “o modelo patriarcal e machista de sociedade modela os
idiomas”.
Depois das consolidadas críticas ao “politicamente correcto”, está aberta a caça ao
“gramaticalmente correcto”.
Habituados aos termos camarada e camaradagem, é altura de os militares se irem preparando
para as necessárias mudanças no dispositivo.
Assim – começando pelo princípio – passará a haver recrutas e recrutos, soldados e soldadas.
Não se riam!
poderá ter baioneta calada e o segundo baioneto calado. Elas terão uma mochila e eles um
mochilo. Eles segurarão os calços com um cinto e elas segurarão as calças com uma cinta. Na
cabeça usarão boina ou boino.
Quando forem para o campo, os recrutos montarão bivaco e as recrutas montarão bivaca. No
quartel, as recrutas dormirão numa caserna e os recrutos num caserno. Eles irão comer ao
refeitório e elas à refeitória.
Para começar o dia, haverá dois toques: o de alvorada e o de alvorado. Há noite, do mesmo
modo, haverá toque de silêncio e de silência.
Nas patentes, também haverá identificação do género: caba/cabo; sargenta/sargento;
tenenta/tenento; capitoa/capitão; majora/major; coronela/coronel, etc. Nas unidades haverá um
comandante ou comandanta; o primeiro deve ser competente e inteligente e a segunda
competenta e inteligenta.
Se se portarem bem, as recrutas poderão ir de licença e os recrutos de licenço.
No final da instrução, haverá juramenta de bandeira e juramento de bandeiro. Todos desfilarão
garbosamente, eles com o passo certo e elas com a passa certa.
Uff!"
David Martelo
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