A partir do século XVI, a arte da doçaria passa a ser cultivada, com grande requinte, por quase todos os Mosteiros e Conventos de Portugal, criando-se especialidades saborosíssimas e de grande valor culinário. Os doces das casas religiosas, inicialmente destinados para consoadas aos seus protetores civis e eclesiásticos, passaram a ter grande procura, dando origem a uma verdadeira indústria conventual que se tornou afamada de norte a sul de Portugal.
Os doces de Vila do Conde, de influência conventual são, ainda hoje, imensos e variados. Desde as Súplicas, ao Pão Doce, aos Biscoitos de Manteiga, ao Pão de Espécie, ao Pão de Ló, aos Beijos de Freira, passando pelas Rosquinhas, pelos Sonhos, pela Sopa Dourada das Freiras de Santa Clara, pelos Rebuçados de Ovos, pelos Tolos, pelos Pastéis de Santa Clara, pelas Empadas, pelas Sapatetas, pelas Cavacas e ainda pelos Melindres de Vila do Conde (doce do século XVII, ou talvez ainda mais antigo, segundo refere o notável sociólogo e prosador brasileiro Gilberto Freire no seu livro Assucar).
Deixo-lhe aqui hoje, uma receita de Melindres, com História e com Poesia. Esta receita foi publicada no periódico Annona, ou mixto-curioso que ensina o methodo de cosinha e copa, Tomo I, nº 2. Typ. Viúva Silva e Filhos, Lisboa: 1836, e republicada no blogue: As Receitas da Avó Helena e da Avó Eduarda. Não me parece, contudo, a receita correspondente aos Melindres de Vila do Conde.
Receita de Melindres:
Em um arratel (459 gramas) de açúcar se deitam vinte ovos, porém só três claras; e depois de bem batidos, ajunta-se-lhe canela, e um arratel (459 gramas) de farinha, e continua a operação do bate bate, para finda ela, irem dentro de latas, a cozer ao forno.
Mãos de fêmea lhe não bula!!!
Pode perder a virtude
Fazendo-as pecar na gula.
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