(...) "Esta baronesa da Corujeira lavava-se em leite, e cada vez estava mais suja, dizia-se no Marrare do Chiado, quando ela andava por ali farejando o Manuel Brown ou o Chico Belas, os leões. (...)
Camilo Castelo Branco - Eusébio Macário.
O Café Marrare foi o mais célebre estabelecimento comercial da Lisboa do Romantismo. Inaugurado em 1820, o Marrare era o mais requintado dos quatro cafés que o napolitano António Marrare, abrira em Lisboa. Um luxo, a decoração de madeira polida reluzente, que o revestia, valeu-lhe o sobrenome de Marrare do Polimento.
Digno herdeiro dos cafés do final de setecentos, como o Nicola ou o Botequim das Parras, o Marrare foi ponto de encontro favorito para a geração de Garrett, tornando-se o centro absoluto da vida social daquele tempo e por onde passaram nomes como Almeida Garrett, Alexandre Herculano, Passos Manuel, José Estêvão, etc.
Além da sala de bilhar, tinha ainda um pequeno pátio coberto por uma clarabóia envidraçada onde, no Verão, as senhoras podiam comer os melhores gelados da cidade. Polido era também o atendimento: criados de libré serviam excelente café em cafeteiras de prata.
O Marrare tornara-se "o lugar de reunião de todos os elegantes e todos os homens de Lisboa", como escreveu Bulhão Pato.
"Lisboa era o Chiado; o Chiado era o Marrare e o Marrare ditava Leis", escreveu Júlio de Castilho.
Fechado em 1866, o Marrare reviveria em "Os Maias" de Eça de Queirós. No século seguinte, no mesmo número da Rua Garrett, reviveria com o digno sucessor Café Chiado (1925-1963), considerado o mais belo de Lisboa.
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