Gostava de ler, de ir ao teatro e de conviver. Passava muitas horas em casa do sobrinho, o poeta Carlos Queirós, a conviver com grandes artistas como Carlos Botelho, Vitorino Nemésio, Almada Negreiros, Olavo d'Eça Leal, Teixeira de Pascoaes, José Régio etc.
Ofélia, no entanto, ficou conhecida por ter sido a única namorada do poeta Fernando Pessoa.
Este namoro é caracterizado por ter duas fases distintas. De Maio a Novembro de 1920 e de Setembro de 1929 a Janeiro de 1930. Embora o contacto entre os dois se tenha mantido cordial, mas esporádico, até à morte do poeta.
A relação entre os dois tornou-se conhecida após a publicação das cartas que ele lhe escreveu, São 48, publicadas em 1978 e precedidas de um texto explicativo da própria Ofélia e das cartas dela (110) para ele, publicadas pela sua sobrinha em 1996, já depois da morte de Ofélia.
Foi o único amor conhecido do poeta, o único nos seus 47 anos de vida.
A primeira fase durou poucos meses e foi marcada por uma paixão intensa. Começa quando Pessoa conhece a jovem, na altura com 19 anos, nos escritórios da baixa lisboeta, onde ela entra para trabalhar como dactilógrafa e ele já exercia os seus serviços como tradutor de correspondência comercial. A relação é pura e doce.
A mudança de Ophélia para o outro lado da cidade, a morte do padrasto e a volta da mãe para Lisboa, somadas ao estado dos nervos do poeta - que se reconhece muito doente - arrefecem o entusiasmo que impulsionava a relação. A 29 de Novembro de 1920, uma lúcida e cruel mensagem encerra o namoro: "O amor passou... O meu destino pertence a outra Lei, cuja existência a Ophelinha ignora, e está subordinado cada vez mais à obediência a Mestres que não permittem nem perdoam..."
Dez anos depois acontece a retomada do namoro, agora usando igualmente o recurso da voz, pois, já existiam telefones em Portugal. O reencontro é motivado por uma fotografia do poeta a beber no Abel Ferreira da Fonseca, que tinha sido oferecida a Carlos Queirós, sobrinho de Ofélia e amigo de Pessoa. A jovem mostra vontade de possuir uma igual e ele envia-lhe uma com a dedicatória: "Fernando Pessoa em flagrante delitro".
A 11 de Setembro inicia-se a primeira da segunda série de cartas de amor. Nesta segunda fase, nota-se uma enorme confusão de sentimentos e perturbação psíquica.
O crítico David Mourão-Ferreira, que estudou as duas fases da correspondência amorosa, sugere que o fracasso desta aventura se deve à presença constante de Álvaro de Campos e que a relação de 1929-1930 era, na verdade, um "ménage à trois virtual".
Ofélia, depois da natural fase de perplexidade, seguiu a sua vida. Mais tarde conhece, na Tobis, o teatrólogo Augusto Soares com quem se casa em 1938, três anos após a morte de Pessoa.
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