terça-feira, janeiro 06, 2015

Em dia de Reis, o Rei dos Bolos

O Bolo Rei é um bolo típico português que se come tradicionalmente entre o Natal e o Dia de Reis (o nome alude aos três reis magos).
Tem a forma de coroa (é redondo, com um grande buraco no centro), e é feito de uma massa levedada branca e fofa onde se misturam passas, frutos secos e frutas cristalizadas. Tradicionalmente, no interior do bolo encontravam-se também uma fava seca e um pequeno brinde, normalmente feito de metal. A fava dava a quem a recebesse numa fatia o direito de pagar o próximo bolo rei, e o brinde dava sorte a quem o encontrasse.
A origem do bolo rei remonta, ao que se sabe, ao tempo dos romanos. Estes tinham por hábito eleger o rei da festa durante os banquetes festivos, o que era feito tirando à sorte com favas, pelo que era também designado por vezes de rei da fava. A Igreja Católica aproveitou o facto de aquele jogo ser característico do mês de Dezembro e decidiu relacioná-lo com a Natividade e com a Epifania, ou seja, com os dias 25 de Dezembro e 6 de Janeiro. A influência da Igreja na Idade Média determinou que esta última data fosse designada por Dia de Reis e simbolizada por uma fava introduzida num bolo, cuja receita se desconhece atualmente.
O Bolo Rei atual terá surgido na corte de Luis XIV, em França, para as festas do Ano Novo e do Dia de Reis. Vários escritores da época escreveram sobre esta iguaria. Greuze celebrou-o  num famoso quadro com o nome de Gâteau des Rois. Com a Revolução Francesa em 1789 o bolo rei foi proibido, só que os pasteleiros, que não quiseram perder o negócio, em vez de o eliminarem decidiram continuar a confeccioná-lo mudando-lhe o nome para Gâteau des Sans-cullotes.
O Bolo Rei popularizado em Portugal no século passado segue uma receita originária do sul de Loire, um bolo em forma de coroa feito de massa lêveda. Tanto quanto se sabe, a primeira casa onde se vendeu bolo rei em Portugal foi a Confeitaria Nacional, em Lisboa, por volta de 1870. O responsável foi o afamado confeiteiro Gregório, que se baseou numa receita que Baltazar Castanheiro Júnior trouxera de Paris. Aos poucos, outras confeitarias da cidade passaram também a fabricar o bolo rei, originando assim várias versões diferentes. No Porto, o Bolo Rei foi introduzido em 1890, por iniciativa da Confeitaria Cascais, segundo uma receita que o proprietário, Francisco Júlio Cascais, trouxera de Paris.
Com a proclamação da república, em 5 de Outubro de 1910, a existência do Bolo Rei ficou em risco por causa do nome conter a palavra "Rei". De acordo com a lógica vigente, deixando este símbolo (o rei) de existir na hierarquia nacional, também o bolo tinha que desaparecer. Os confeiteiros, partindo mais uma vez do princípio de que negócio é negócio e política é política, continuaram a fabricar o bolo sob outra designação. Os menos imaginativos deram-lhe o nome de "ex-bolo rei", mas a maioria chamou-lhe "Bolo de Natal" ou "Bolo de Ano Novo". Não contentes com nenhuma destas designações, alguns republicanos passaram a chamar-lhe "Bolo Presidente", ou mesmo "Bolo Arriaga".
Passada esta fase da política portuguesa o bolo voltou a readquirir o antigo nome, Bolo Rei, e nos dias de hoje não há nesta quadra natalícia, nenhuma casa portuguesa onde não exista um Bolo Rei.
E aqui lhe deixo, uma das muitas receitas de Bolo Rei que existem em Portugal:
Ingredientes:
750 g de farinha ;
30 g de fermento de padeiro ;
150 g de manteiga ou de margarina ;
150 g de açúcar ;
150 g de frutas cristalizadas ;
150 g de frutas secas (pinhões, nozes, passas, etc.) ;
4 ovos ;
1 limão ;
1 laranja ;
1 dl de vinho do Porto ;
1 colher de sobremesa (rasa) de sal grosso
Preparação:
Picam-se as frutas cristalizadas e põem-se a macerar com o vinho do Porto juntamente com as frutas secas.
Dissolve-se o fermento em 1 dl de água tépida e junta-se a uma chávena de farinha (tirada do peso total). Mistura-se e deixa-se levedar em ambiente morno durante cerca de 15 minutos.
Entretanto, bate-se a gordura escolhida, o açúcar e a raspa das cascas do limão e da laranja. Juntam-se os ovos, um a um, batendo entre cada adição, e depois a massa de fermento. Quando tudo estiver bem ligado, adiciona-se a restante farinha peneirada com o sal. Amassa-se ou bate-se a massa muito bem. Esta massa deve ficar macia e elástica. Se estiver muito rija, junta-se um pouco de leite tépido. Misturam-se as frutas maceradas no vinho do Porto. Volta a amassar-se e molda-se em bola. Polvilha-se a massa com um pouco de farinha, tapa-se com um pano e envolve-se a tigela num cobertor. Deixa-se levedar em ambiente morno durante cerca de 5 horas.
Quando a massa estiver bem levedada - em princípio deve dobrar de volume -, mexe-se e molda-se novamente em bola (ou em várias bolas) e já sobre um tabuleiro untado faz-se-lhe um buraco no meio. Introduz-se a fava e o brinde, este embrulhado em papel vegetal. Deixa-se levedar durante mais 1 hora.
Pincela-se o bolo com gema de ovo e enfeita-se com frutas cristalizadas inteiras, torrões de açúcar, pinhões inteiros, meias nozes, etc.
Leva-se a cozer em forno bem quente.
Depois de cozido, pincela-se o bolo-rei com geleia diluída num pouco de água quente.

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