"Eu sou defensor do ensino do crioulo rigoroso, mas o português tem de ser ensinado como uma língua estrangeira, porque não é a nossa língua nacional. Considero muito importante a nossa gente saber falar português bem. Tem-se tentado diversas experiências. Uma delas é começar por alfabetizar em crioulo para depois transbordar para o português, de forma a que as pessoas não sintam que o português é uma língua estranha. As nossas crianças nascem a falar crioulo e só contactam com o português na escola. E para a grande maioria isto é um traumatismo.
Mas não perdem muito os cabo-verdianos se desistirem do português, língua que é também deles?
Eu acho que nos perdemos. Tenho insistido na necessidade de nós em Cabo Verde dominarmos o português até mais do que os portugueses. Porque nós com o crioulo não vamos longe, não saímos das ilhas. Com o português vamos para Portugal, para o Brasil, para Angola.
Sim. Algumas pessoas dizem que sou um traidor por achar o português tão importante como o crioulo. Eu digo está bem vou continuar. Mas a verdade é que defender o português é ideia que ganha adeptos, felizmente. Por exemplo, há quem defenda o ensino universitário em crioulo e isso é absurdo.
As pessoas em Cabo Verde leem sobretudo em português? Sim. Ninguém vai traduzir Eça de Queirós em crioulo.
Usa palavras do crioulo no livro, como crau (relações sexuais) ou catchor de lantcha (cão vagabundo). Sente necessidade destas palavras na boca das personagens para lhes dar mais autenticidade?
As pessoas podem pensar que ponho isto à força, mas não. Conto uma história em português, mas sou cabo-verdiano e há expressões que só me fazem sentido em crioulo. Por exemplo, catchor de lantcha, eu não saberia traduzir. Posso pôr "és um malandro", mas... "
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