Moro na rua Avelino Dias
aqui nos Coqueiros.
Daqui avisto o mar
e vejo partir os navios
(com eles vai o meu olhar!)
Avisto também a ilha do Cabo
e aquelas três palmeiras unidas
nos bairros dos pescadores…
Oiço o apito dos vapores que partem e chegam
e os sinos da velha Sé, badalando,
badalando horas,
horas compassadas e iguais.
E assisto à vida da cidade e do cais
Logo que o dia começa.
São os pretos serviçais e os calcinhas
os brancos apressados e queimados
as pretas quitandeiras de lenços garridos,
os rapazes dos jornais de passos largo.
Uma cidade que desperta!
Moro na rua Avelino Dias
aqui nos Coqueiros.
Daqui avisto o mar
e a Fortaleza.
Vejo os dongos de Vieira da Cruz
a flutuar na baía,
e uma preta velha, de panos,
vendendo jinguba, rama e caju.
Daqui da minha rua
(da rua onde moro)
namoro a cidade inteira
e adoro a Lua,
uma Lua enorme, redonda,
que ilumina a minha rua!
Moro aqui na Avelino Dias
nos Coqueiros,
aqui fico à vossa disposição!
Préstimos de poeta têm sempre devoção.
Mário Mota – Angola, Eu Quero Falar Contigo (1962).
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