Sentado nesta rocha e quase
tão paciente como ela
pergunto-me se os nossos pensamentos
serão diferentes.
É certo que tenho ouvidos
e ela não, olfacto e ela não
- mas que sei eu
das suas
sensações?
Que direi do pó incansável
que em mim canta e balança
e se afasta para outro lugar?
Saberá ela
que sou um homem quase acabado?
Eu,
o que sei dela?
Há um sol
que se levanta
e vagas e brisas salgadas
que se transformam em espuma
-
há uma sombra num país distante
que a todos espera
- é o que temos
em comum.
Inclino-me sob o vento
para defender
a minha natureza.
Ela também.
A rocha
saberá o calendário?
Casimiro de Brito (in Arte de Bem Morrer)
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