quando uma torre se levanta é para usar da palavra
traz algo nos lábios para dizer histórias
lembranças saudações augúrios
quando esta porém se erige acima de todos os coruchéus
acima dos outros campanários acima do nevoeiro
não estira apenas o pescoço da curiosidade
para saber se o rio que desliza no sonho dos séculos
vai vestido de azul ou de ouro
ou para espreitar os acenos brancos das velas dos rabelos
ou o sulco das outras embarcações
acima dos outros campanários acima do nevoeiro
não estira apenas o pescoço da curiosidade
para saber se o rio que desliza no sonho dos séculos
vai vestido de azul ou de ouro
ou para espreitar os acenos brancos das velas dos rabelos
ou o sulco das outras embarcações
orador sagrado num púlpito excelso
ébrio da eloquência de um infinito azul
aponta o incomensurável como rumo
faz o panegírico da verticalidade
promete a bem-aventurança que mora no alto
ébrio da eloquência de um infinito azul
aponta o incomensurável como rumo
faz o panegírico da verticalidade
promete a bem-aventurança que mora no alto
sineira e crucífera deveria talvez
apetecer-lhe apenas a salvação das almas
mas esta torre granítica ereta acima das demais
já ali estava há muito de olhos postos no poente
vaticinando que seria do mar que chegaria
a auspiciosa palavra liberdade
semente sonhada de um paraíso terreno
chegou e logo chamaram invicta à cidade
a torre achando merecer também o epíteto
põe-se nos bicos dos pés de justificado orgulho
e cresce ainda um pouco mais
põe-se nos bicos dos pés de justificado orgulho
e cresce ainda um pouco mais
Anthero Monteiro - Helder Pacheco, Porto A Torre da Cidade nos 250 anos da Torre dos Clérigos,
Porto, Edições Afrontamento, 2013
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