sábado, março 23, 2024

O Shoujo ou Shōjo

 Rosa de Versalhes, de Riyoko Ikeda

O Shoujo ou Shōjo é uma categoria de histórias aos quadradinhos japonesa destinada ao público feminino adolescente e jovem adulto (dos 12 aos 18 anos). É uma das principais categorias de mangás ao lado de shonen, seinen e josei. O mangá Shoujo teve origem na cultura feminina japonesa na mudança para o século XX, principalmente a partir dos romances shōjo shōsetsu e jojōga (pinturas líricas). Os primeiros mangás shōjo foram publicados em revistas destinadas a adolescentes no início do século XX e verificou-se um período de desenvolvimento criativo a partir da década de 1950, quando começou formalizar-se como uma categoria distinta de mangá.

Inicialmente o Shoujo foi desenvolvido por artistas de mangá do sexo masculino, contudo, a partir das décadas de 1960 e 1970, tornou-se o principal género feito por artistas mulheres. Da década de 80 em diante, a categoria começou a ganhar popularidade e a diversificar o seu estilo artístico.

 Itazura Na Kiss - Kaoru Tada

Apesar de existirem certas convenções estéticas, visuais e narrativas associadas ao mangá shōjo, essas convenções mudaram e evoluíram ao longo do tempo, e nenhuma é estritamente exclusiva do mangá shōjo. No entanto, vários conceitos e temas passaram a estar tipicamente associados ao mangá shōjo, tanto visuais, (traços e formatos das personagens) quanto narrativos (o foco em relações românticas; personagens que desafiam papéis e estereótipos tradicionais em torno do género e sexualidade).

Os enredos são, na maioria dos casos, românticos, com protagonistas doces e recatadas (kawaii) e garotos sempre muito gentis e adoráveis.

sexta-feira, março 22, 2024

Gîtâ

"Gîtâ" é uma canção composta pelo cantor e compositor brasileiro Raul Seixas (1945 - 1989) e pelo escritor Paulo Coelho e lançada originalmente em 1974. Apesar de Raul já ser conhecido nessa época, o sucesso do seu lançamento foi enorme.

Em 2009, foi escolhida pela revista Rolling Stone Brasil como uma das 100 maiores músicas brasileiras figurando no 72° lugar.

O seu título faz alusão a um dos textos sagrados do hinduísmo, o Bhagavad Gita, que faz parte do Mahabharata, um dos dois textos épicos mais importantes da Índia e considerado por alguns autores como o texto sagrado mais importante da religião hindu. O texto indiano trata de um diálogo travado entre o guerreiro Arjuna e Krishna, antes da guerra de Kurukshetra, no qual o primeiro pergunta pela natureza de Krishna.

A canção fez parte da banda sonora de algumas telenovelas brasileiras entre elas Mulheres de Areia, exibida pela Rede Globo em 1993.

Esta música foi gravada posteriormente por Maria Bethânia (em show com Chico Buarque de Holanda), RPM, Rita Lee, Zé Ramalho, Ney Matogrosso, Daniel e a dupla sertaneja Milionário & José Rico. 

Eu, que já andei pelos quatro cantos do mundo procurando
Foi justamente num sonho que Ele me falou

Às vezes você me pergunta
Por que é que eu sou tão calado
Não falo de amor quase nada
Nem fico sorrindo ao seu lado
Você pensa em mim toda hora
Me come, me cospe, me deixa
Talvez você não entenda
Mas hoje eu vou lhe mostrar

eu sou a a luz das estrelas
Eu sou a cor do luar
Eu sou as coisas da vida
Eu sou o medo de amar

Eu sou o medo do fraco
A força da imaginação
O blefe do jogador
Eu sou, eu fui, eu vou

Eu sou o seu sacrifício
A placa de contra-mão
O sangue no olhar do vampiro
E as juras de maldição

Eu sou a vela que acende
Eu sou a luz que se apaga
Eu sou a beira do abismo
Eu sou o tudo e o nada

Por que você me pergunta?
Perguntas não vão lhe mostrar
Que eu sou feito da terra
Do fogo, da água e do ar

Você me tem todo o dia
Mas não sabe se é bom ou ruim
Mas saiba que eu estou em você
Mas você não está em mim
Das telhas eu sou o telhado
A pesca do pescador
A letra "A" tem meu nome
Dos sonhos eu sou o amor
Eu sou a dona de casa
Nos "peg-pagues" do mundo
Eu sou a mão do carrasco
Sou raso, largo, profundo

Eu sou a mosca da sopa
E o dente do tubarão
Eu sou os olhos do cego
E a cegueira da visão
É, mas eu sou o amargo da língua
A mãe, o pai e o avô
O filho que ainda não veio
O início, o fim e o meio

O início, o fim e o meio
Eu sou o início, o fim e o meio
Eu sou o início, o fim e o meio

quinta-feira, março 21, 2024

Um Amor

O Beijo - Gustav Klimt

No Dia Mundial da Poesia trago-lhe um belo poema do ensaísta e poeta português Nuno Júdice (29 de abril de 1949 a 17 de março de 2024).

Aproximei-me de ti; e tu, pegando-me na mão,
puxaste-me para os teus olhos
transparentes como o fundo do mar para os afogados. Depois, na rua,
ainda apanhámos o crepúsculo.
As luzes acendiam-se nos autocarros; um ar
diferente inundava a cidade. Sentei-me
nos degraus do cais, em silêncio.
Lembro-me do som dos teus passos,
uma respiração apressada, ou um princípio de lágrimas,
e a tua figura luminosa atravessando a praça
até desaparecer. Ainda ali fiquei algum tempo, isto é,
o tempo suficiente para me aperceber de que, sem estares ali,
continuavas ao meu lado. E ainda hoje me acompanha
essa doente sensação que
me deixaste como amada
recordação.
Nuno Júdice - "A Partilha dos Mitos"

quarta-feira, março 20, 2024

Paraguai: O Mundo Segundo os Brasileiros

Paraguai ou República do Paraguai, é um país do centro da América do Sul, limitado a norte e oeste pela Bolívia, a nordeste e leste pelo Brasil e a sul e oeste pela Argentina. Tem uma área de 406 752 Km2 e uma população de 6,1 milhões de habitantes (2022), a maioria dos quais estão concentrados na região sudeste do país. 
Ao lado da Bolívia, o Paraguai é um dos dois países da América do Sul que não possuem uma saída para o mar.
A capital e maior cidade é Assunção, cuja região metropolitana é o lar de cerca de um terço da população do país. Em contraste com a maioria das nações latino-americanas, a cultura e a língua nativa do país - o guarani - permaneceram altamente influentes na sociedade. 
Embarque numa viagem pelos quatro cantos do planeta, através do programa televisivo O Mundo Segundo os Brasileiros. 
A série percorre os principais roteiros turísticos do mundo, lugares muitas vezes longínquos, pouco explorados e repletos de descobertas e contrastes. África, Ásia, Oceania, Europa e Américas: a cada destino uma nova aventura, narrada por personagens reais em tom documental e quase autobiográfico. A cada novo episódio, as várias facetas de uma mesma cidade, com dicas, roteiros, histórias e revelações emocionantes. 
Desta feita a viagem virtual é até ao Paraguai. Não perca. Vale bem a pena.

 

terça-feira, março 19, 2024

O pai

Terra de semeadura inculta e brava,
terra que não tem estreitos nem sendas,
minha vida sob o sol treme e alarga.
Pai, os teus olhos doces nada podem,
como nada puderam as estrelas
que me abrasam os olhos e as fontes.
O mal de amor cegou a minha vista
e nesta fonte doce do meu sonho
refletiu-se outra água estremecida.
Depois… Pergunta a Deus por que me deram
o que me deram e por que depois
soube da solidão de terra e céu.
Olha, minha juventude foi broto
puro que ficou sem abrir, perdeu
sua doçura de sangues e de sucos.
O sol que cai e cai eternamente
cansou-se de beijá-la… E sendo outono,
Pai, os teus olhos na podem.
Escutarei na noite tuas palavras:
menino, meu menino…
e na noite imensa seguirei
com as minhas e as tuas chagas.

segunda-feira, março 18, 2024

Os "Biscoutos" ou Biscoitos de Marear

Fazer os alimentos durarem numa viagem é um desafio, mesmo com os modernos transportes da atualidade. Agora imagine o que era uma viagem de mais de dois anos, de barco e no século XVI? 

A história das nossas navegações demonstra exatamente isso. A base da alimentação foi a mesma utilizada a bordo de todas as naus e caravelas do século XVI: o "biscoito de marear" - uma bolacha dura e salgada, em geral "toda podre das baratas e com bolor mui fedorento". Como a palavra parece indicar o biscoito era um pão duas vezes cozido. Tais bolachas, cuja fabricação se confunde com a própria história da navegação, eram assadas em fornos reais, como o do Vale do Zebro, em Lisboa, onde, entre 1505 e 1507, se produziriam mais de mil toneladas (o equivalente a 2,5 milhões de rações diárias).

Deixo-lhe aqui uma provável receita dos "Biscoutos" ou Biscoitos de Marear.

"Tomem de farinha de trigo branco bem peneirada um alqueire de pó, e, para um alqueire, dous arráteis de açúcar bem peneirado, e façam na farinha uma presa e deitem-lhe o açúcar e um púcaro de água quente. E junto desta presa façam outra e deitem-lhe um quartilho de água-de-flor-de-laranjeira e meio de vinho branco, e uma colher muito pequena de manteiga. E se não quiser que levem manteiga, deitem-lhe a este alqueire uma medida de azeite muito fino. Então misturem a farinha toda e sovem-na muito bem, até que se junte àquela massa. E para se lavrar bem a massa há-de ser mais sobre o mole que sobre o duro".

Ordem para se entregarem 28 quintais de biscoito.

E agora do "Livro de Cozinha da Infanta D. Maria de Portugal" (1538-1577), um manuscrito copiado entre o fim do século XV e o início do século XVI, e que pertenceu à Infanta D. Maria, filha do Infante D. Duarte e neta de D. Manuel I, deixo-lhe a receita de "biscouto" modernizada. As medidas foram ajustadas porque, no original, vão nada menos que 13kg de farinha! É biscoito pra muita gente!

Ingredientes:

300 g de farinha de trigo
25 g de açúcar
5 colheres de sopa de água quente, mais ou menos 100 ml
10 ml de água de flor de laranjeira
15 ml de vinho branco
1 colher de chá de manteiga
Veja de seguida o vídeo sobre os Biscoitos e a Viagem de Fernão de Magalhães. Não perca.

domingo, março 17, 2024

Um Duelo de Banjo

No filme Um Fim-de-semana Alucinante ou Amargo Pesadelo (Deliverance), ocorre uma cena inesquecível que ficou conhecida como "Duelo de Banjo" apesar de um dos protagonistas tocar viola. O homem com a viola desafia um menino mudo, com um banjo, e é incrível este duelo!

O vídeo que pode ver abaixo é uma cena verídica. O garoto não é ator, apenas uma criança autista que residia no local onde estavam a ser feitas as filmagens de "Deliverance".

A equipa parou num posto de gasolina e aconteceu uma cena impressionante, que o realizador teve a sensibilidade de encaixar no filme.

Repare na expressão do garoto: no princípio está distante, mas à medida que toca o seu banjo, ele cresce com a música e vai-se deixando levar por ela, até transformar a sua expressão num sorriso contagiante, transmitindo a todos a sua alegria.

A alegria de um autista, que é resgatada por alguns momentos, graças a uma viola. O garoto brilha, cresce e exibe o sorriso preso nas dobras da sua deficiência e que a magia da música traz à superfície.

Depois, ele volta para dentro de si, deixando a sua parcela de beleza eternizada "por acaso" no filme (1972)  "Um Fim-de-semana Alucinante ou Amargo Pesadelo" do realizador John Boorman e que conta  John VoightBurt Reynods como protagonistas.