sábado, outubro 14, 2017

Renúncia

Fui nova, mas fui triste; só eu sei
como passou por mim a mocidade!
Cantar era o dever da minha idade…
Devia ter cantado, e não cantei!

Fui bela. Fui amada. E desprezei…
Não quiz beber o filtro da ansiedade.
Amar era o destino, a claridade…
Devia ter amado, e não amei!

Ai de mim! Nem saudades, nem desejos;
nem cinzas mortas, nem calor de beijos…
— Eu nada soube, nada quis prender!

E o que me resta? Uma amargura infinda:
ver que é, para morrer, tão cedo ainda,
e que é tão tarde já para viver!
Virgínia Vitorino

sexta-feira, outubro 13, 2017

Ouro Preto

A Cidade Histórica de Ouro Pretoconhecida pela sua arquitetura colonial, situa-se em Minas Gerais, no Brasil, tendo sido o primeiro sítio brasileiro considerado Património Mundial da UNESCO, título que recebeu em 1980.
Ouro Preto localiza-se numa das principais áreas do ciclo do ouro. Oficialmente, foram enviadas para Portugal 800 toneladas de ouro no século XVIII, isso sem contar com o que circulou de maneira ilegal, ou com o que permaneceu naquela colónia, como por exemplo, o ouro empregado na ornamentação das igrejas.
Ouro Preto chegou a ser a cidade mais populosa da América Latina, contando com cerca de 40 mil pessoas em 1730 e, hoje tem cerca de 80 mil. Naquela época, a população de Nova York era de menos da metade desse número de habitantes e a população de São Paulo não ultrapassava os 8 mil.
O município foi fundado em 1711, tendo resultado da fusão de diversos arraiais, fundados por bandeirantes.
No município, há treze distritos: Amarantina, António Pereira, Cachoeira do Campo, Engenheiro Correia, Glaura, Lavras Novas, Miguel Burnier, Santa Rita de Ouro Preto, Santo António do Leite, Santo António do Salto, São Bartolomeu e Rodrigo Silva, além de Ouro Preto.

Se não conhece esta bela cidade brasileira, não deixe de ver o vídeo abaixo. Vale bem a pena!

quinta-feira, outubro 12, 2017

Alma Sebosa

Oiça o jovem cantor brasileiro Johnny Hooker em Alma Sebosa.
John Donovan, mais conhecido como Johnny Hooker (1987), é um cantor, compositor, ator e roteirista brasileiro.
Hooker foi vencedor do Prémio da Música Brasileira como Melhor Cantor na categoria de Canção Popular.
As suas músicas são conhecidas por darem a vida a bandas sonoras de séries, filmes e novelas brasileiras, como "Volta" (do filme Tatuagem), "Amor Marginal" (da novela Babilónia) e "Alma Sebosa" (da novela Geração Brasil, onde Johnny interpretou o personagem Thales Salgado).

terça-feira, outubro 10, 2017

A mulher lisboeta

 Proponho-lhe que leia mais uma crónica de Ruth Manus, publicada no Observador:

"A mulher lisboeta caminha com passos de certeza. Não acelera demais, como fazem as parisienses, não esbarra nos outros, como fazem as madrileñas, não pisa fundo demais, como fazem as berlinenses.

Quando vim morar em Lisboa, há dois anos, eu já namorava um lisboeta, mas percebi que não conhecia nenhuma mulher lisboeta de perto. Dias antes de me mudar, tentava formar um perfil na minha cabeça, misturava a imagem das mulheres que tinha visto caminhar na Avenida da Liberdade quando vim passar férias, com a fama da mulher portuguesa, de ser rígida e trabalhadora. Não conseguia visualizar bem quem seriam essas mulheres e perguntava-me se saberia me relacionar com elas, bem como se seríamos amigas ao invés de sermos adversárias.

O tempo começou a me dar respostas. A mulher lisboeta não cabe num padrão óbvio, muito menos nos velhos clichês sobre a mulher portuguesa- bruta demais, dura demais. Muitas vezes a mulher lisboeta lembra a mulher paulistana, que também não se encaixa no velho clichê sobre a mulher brasileira- sensual demais, vazia demais. Essa semelhança foi uma boa surpresa. São mulheres urbanas, sólidas e donas de si mesmas.

A mulher lisboeta dirige a própria vida. É uma mulher que estuda, trabalha e faz planos sem esperar que ninguém os faça por ela. Ela pode ter mais ou menos apoio, mas nada- nem muito suporte, nem pouco suporte- faz com que ela tenha menos coragem de seguir em frente.

A mulher lisboeta se veste bem. Ninguém sabe usar botas melhor do que elas. Ninguém sabe usar tons de castanho melhor do que elas. Sigo observando-as nas ruas, tentando aprender como um casaco cinzento e uma calça preta pode ganhar tanta graça quando bem escolhidos. Não precisam de muita maquiagem, não precisam de peças caríssimas, não precisam de salto fino. Não precisam de muito porque elas simplesmente sabem o que fazer.

A mulher lisboeta caminha com passos de certeza. Não acelera demais, como fazem as parisienses, não esbarra nos outros, como fazem as madrileñas, não pisa fundo demais, como fazem as berlinenses. Ela caminha, às vezes apressada no Saldanha, às vezes calma no Chiado, mas sempre com o ar de quem sabe aonde está indo. Você pode não saber, mas ela sempre sabe aonde vai.

A mulher lisboeta não pede licença para ocupar o espaço ao qual tem direito, seja na família, no trabalho, na universidade ou nas ruas. Ela tem consciência de que o mundo é machista e decide diariamente não se intimidar com isso. Ela segue em frente e vai derrubando as barreiras com sua capacidade e sua postura que, sim, às vezes é agressiva porque precisa ser. Num mundo que ainda é dos homens, ser doce nem sempre funciona.

A mulher lisboeta sabe esbravejar quando é necessário. Talvez seja isso o que mais falta nas brasileiras. Mas a mulher lisboeta também sabe sorrir. Sorri de forma tímida, não sei bem o porquê, mas sorri. A mulher lisboeta é divertida e sólida ao mesmo tempo. É forte, tem charme e sempre segue em frente.

A mulher lisboeta é grande, mesmo quando é pequena. Não vive de mesquinharias, não compra os rótulos burros que tentam lhes vender, inclusive sobre nós brasileiras. Isso ficou no passado. A mulher lisboeta não se sente ameaçada porque sabe quem é. Ela sorri seu sorriso riso curto e estende a mão de forma discreta. Mas sorri e estende a mão, é o que importa.

Não sei se as mulheres do Porto são como as de Lisboa. Nem se as de Coimbra, de Braga, de Évora, de Faro, de Funchal, de Viseu e de Santarém o são. Espero que sim, cada uma com suas nuances e sua identidade. Mas todas mulheres fortes, movendo o mundo. É bom poder contar com vocês".
Ruth Manus - Observador (04/02/17)

segunda-feira, outubro 09, 2017

As Saloias

Saloias - Silva Porto

Quem me dera em Lisboa
Á porta de uma taberna,
P´ra ver passar a saloia
Com saia a meia perna.


Sou saloia, trago botas,
E também trago mantéu,
Também trago carapuça
Debaixo do meu chapéu.


Sou saloia, trago botas,
Também trago o meu mantéu:
Também tiro a carapuça
A quem me tira o chapéu


Sou saloia, vendo queijos,
Também vendo requeijão,
Também falo ao meu amor,
Quando tenho ocasião.


Ó saloia, dá-me um beijo,
Que eu te darei um vintém,
Os beijos de uma saloia
São caros, mas sabem bem.
Luís Chaves - Lisboa nas auras do povo e da história - Ensaios Etnográficos, CML,1961

domingo, outubro 08, 2017

Aldeia da Roupa Branca

 A Aldeia da Roupa Branca foi o filme de Chianca de Garcia (de 1938) que projetou a atriz e  cantora portuguesa Beatriz Costa para o estrelato.
Chianca de Garcia contou com as participações de José Gomes Ferreira e de Ramada Curto no argumento, a de Aquilino Mendes na fotografia e Miguel Vieira de Sousa na montagem,

O filme retrata a típica Região Saloia (nos arredores de Lisboa) e os seus habitantes - os saloios, cuja actividade principal consistia ou no cultivo da hortaliça ou no lavar da roupa dos lisboetas, os "Alfacinhas".


Este filme é um exemplo do cinema português na sua era dourada, que se estendeu dos anos trinta aos anos cinquenta, sobretudo ao nível da comédia de costumes, em que se integra esta divertida história de duas famílias saloias.

A vida, o quotidiano, os costumes pitorescos, as zangas, as rivalidades e as paixões da pequena comunidade saloia da periferia de Lisboa, que se encarregava da lavagem da roupa no rio, são o pano de fundo deste filme.


Sinopse:
Duas famílias, a do tio Jacinto e a sua afilhada Gracinda, e da viúva Quitéria e o seu filho Luís, mantêm entre si uma viva e feroz concorrência no negócio da roupa branca, que os leva a alguns extremos. Tudo se irá, porém, resolver da melhor forma com o aparecimento de uma camioneta comprada em Lisboa, o que vai inaugurar uma nova era no trabalho da lavagem de roupa dos "alfachinhas"
Se não conhece o filme veja em baixo a Aldeia da Roupa Branca, passado na RTP MEMÓRIA.