Não me estreites de maneira
Que me impeça respirar.
Lembra-te, amor, que a fogueira
Só arde se tiver ar!...
Mesmo fria, é sempre bela
A noite de S. João.
Nunca a orvalhada gela
Quando é quente o coração.
Sorri feliz, o menino,
Aos ombros do pai babado:
Um S. João pequenino,
Num altar improvisado.
Pode murchar a cidreira
Pode cair o balão
Pode morrer a fogueira
Nunca morre o S. João!
Ver os balões na subida
Mostrando ao mundo a fachada,
Faz lembrar os que na vida
Sobem cheiinhos de nada!...
Quando a Maria bailar
Com a saia de balão,
Até as nuvens do ar
Querem ser pedras do chão.
Ir numa rusga qualquer
É dança em que não me dou;
Se eu fosse como alguém quer
Nunca mais era quem sou!...
O pobre que faz, cantando,
Do lar, cascata modesta,
Vê nos seus filhos brincando
Os balõezinhos da festa!
Um miudo vagabundo,
Quando lhe dei o balão,
Pensava levar o mundo
Preso no fio da mão.
Na dança trocaste o passo,
Troquei o meu, em seguida...
E acertámos o compasso
Prá dança da vida!
Eu sou a fonte vadia
Dum S. João vagabundo
Que mata a sede à folia
Da maior noite do mundo.
Meu balão não é d'espanto!
Não tem vinda, só tem ida,
Leva risos, leva pranto...
Tudo faz parte da vida.
Com tua mão presa à minha
Fui à fonte e não bebi.
A estranha sede que tinha
Era só sede de ti!
Fogueiras de amor, já fiz,
Mas ocultei-lhes a chama.
A alma ama e não diz,
A boca diz mas não ama.
Pelo Santo António vi-te,
P'lo S. João fui falar-te;
No S. Pedro convenci-te,
Falta um santo p'ra deixar-te.
Sou ateu, mas faço santos,
Cascatas, figuração;
Faço risos, faço prantos;
Faço a vida ó São João!
Uma oculta semelhança
No baile vi traduzida:
São vida os passos de dança,
São dança os passos da vida.
O ferrenho "Zé tripeiro"
Passou a noite de vela;
Com S. João num craveiro
E o Porto na lapela...
Os olhos duma criança
São de luz, lá bem no fundo.
Dois balõezinhos de esperança
No céu cinzento do mundo.
Tem fé na vida, tem calma,
Tenta a sorte, que ele existe;
procura a sorte na alma
de um trevo que nunca viste...
Chinelinha de tacão,
São João, entrei na valsa.
Foi tão grande o trambolhão,
Dei por mim, estava descalça...
Eu sou fogueira cansada,
Mesmo assim quero ir à festa.
São João, vou p'rà noitada
Queimar a lenha que resta...
Nenhum santo é menos santo
Por estar numa cascata
Que um pobre ergueu, com encanto,
Num simples bairro de lata...
O casebre era a cascata,
E o velho, sentado ao fundo,
Era um S. João, sem data,
Com todo o sonho do mundo!
A fonte é como a mulher
Que ama sem ser amada;
Não bebe e dá de beber,
Só beija quando é beijada.
Meu amor foi um balão
Que depressa se perdeu.
Bastou-me soltar-lhe a mão
E foi um ar que lhe deu!
Nos bailes de S. João
Troquei penas por compassos.
Por isso cumpro prisão
Na cadeia dos teus braços.
Minha mulher, meu enlevo,
Balão, manjerico e brasa...
- Por que hei-de ir atrás do trevo
Se já tenho a sorte em casa?
Não ouças, não digas nada,
Deixa lá falar quem fala;
Pois o melhor da noitada
É aquilo que se cala...
Acabada a reinação,
Vim da festa acompanhado.
Quis passar por gavião,
Acabei pombo anilhado.
No S. João tu não andes
À noite nas Fontainhas;
Deixa essas festas grandes
Que eu faço-te umas festinhas...
Se não me queres, só me resta
Vir da festa antes do fim.
Não me interessa estar na festa
Sem a festa estar em mim!
Ah poeta! Tu desfolhas
Tua sorte em tons diversos:
No trevo de quatro folhas,
Na trova de quatro versos...
Quadras populares, de diversos autores, "pescadas" na net.
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