Aqui fica mais outra sugestão para o Natal: O Beijo da Palavrinha.
Este é um livro recomendado pelo Plano Nacional de Leitura para o 4º ano de escolaridade. Destina-se a uma leitura autónoma e/ou a uma leitura com o apoio do professor ou dos pais.
Quando Maria Poeirinha adoeceu, o Tio Jaime Litorânio disse que só o mar, que ela nunca vira, a poderia curar. A menina estava demasiado fraca para a viagem, mas o irmão Zeca Zonzo encontrou o modo de a levar a conhecer o mar.
O poder mágico das palavras é o tema deste segundo livro para crianças de Mia Couto, com magníficas ilustrações de Danuta Wojciechowska, em Portugal (Editorial Caminho).
O Beijo da Palavrinha, escrito por Mia Couto foi ilustrado em Moçambique por Malangatana Valente. Dois artistas moçambicanos comprometidos com a sua terra, com a pluralidade cultural do seu país e com o bem-estar entre os homens das diversas “raças” e crenças e a formação de uma sociedade plural e pacífica.
sábado, dezembro 18, 2010
sexta-feira, dezembro 17, 2010
Um Deserto Misterioso
O deserto Badain Jaran, localiza-se no norte da China, na Região Autónoma da Mongólia Interior. Está limitado a Norte pelo deserto de Gobi; a leste pelo Monte Lang; a sudoeste pelo Corredor de He Xi e a oeste pelo rio Ruo Shui, ou Ejina. É o quarto maior deserto do mundo e o tereceiro maior da China, cobrindo uma área de, aproximadamente, 49 000 km2. É uma paisagem assombrosa e inesperada porque tem características únicas e fantásticas. Possui algumas das dunas fixas, mais altas do mundo. Algumas atingem os 450/500 m de altura e os 5 km de comprimento e, entre elas, existem lagos relativamente grandes.
O próprio nome deste Deserto, Badain Jaran, significa no dialecto local daquela região da Mongólia, Lago Misterioso.
Outra característica estranha é que estas dunas, são húmidas no interior, embora naquela região as chuvas só atinjam os 40 mm anuais, pelo que é impossível que sirvam para sustentar o nível da água destes lagos. Este mistério foi, contudo, desvendado há bem poucos anos. Como noticiou a revista Nature, cientistas chineses, australianos e britânicos descobriram, no deserto de Badain Jaran, sinais de humidade a cerca de 20 centímetros debaixo da areia.
Esta descoberta explica por que razão as dunas de Badain Jaran, resistem à erosão eólica. «Esta água age como um agente de coesão, dando -lhes uma enorme resistência contra a erosão e os deslizamentos de areia», indica o estudo.
Na perspectiva daqueles investigadores, a água retida debaixo das dunas não provém dos 72 lagos disseminados pela paisagem do Badain Jaran, mas da fusão das neves dos montes Qilian, situados 500 quilómetros a Sudoeste. Assim, a água escorre pelas falhas das montanhas e segue depois, através de camadas profundas das rochas, para finalmente chegar às dunas e aos lagos de Badain Jaran. Qualquer coisa como um gigantesco rio subterrâneo que não tem outra opção senão atravessar o deserto. Segundo os cálculos dos cientistas, 500 milhões de metros cúbicos de água poderão estar contidos debaixo do deserto.
Portanto, estas dunas, contêm gigantescas reservas de água subterrâneas, que poderão suprir a crónica falta de água existente no Norte da China.
Apesar de alguns destes lagos serem de formação recente, outros são muito antigos e possuem uma elevada salinidade.
As vistas são imponentes se considerarmos que algumas das dunas que rodeiam os lagos, podem alcançar os 500 metros de altura. Além disso, as dunas "cantam". Ao entardecer, os ventos fortes que se fazem sentir arrastam as areias dunas abaixo, produzindo um som semelhante ao que é emitido por um enorme sino ou ao produzido por um gigantesco tambor.
O Badain Jaran não é um "mar de morte", como se poderia imaginar. É, antes pelo contrário, um deserto com muita vida. Ali existe um mosteiro budista com os seus monges desde 1755 e pastores com camelos, que vivem no meio das suas gigantescas dunas.
Agora veja esta maravilha da natureza através da apresentação que escolhi para hoje.
O próprio nome deste Deserto, Badain Jaran, significa no dialecto local daquela região da Mongólia, Lago Misterioso.
Outra característica estranha é que estas dunas, são húmidas no interior, embora naquela região as chuvas só atinjam os 40 mm anuais, pelo que é impossível que sirvam para sustentar o nível da água destes lagos. Este mistério foi, contudo, desvendado há bem poucos anos. Como noticiou a revista Nature, cientistas chineses, australianos e britânicos descobriram, no deserto de Badain Jaran, sinais de humidade a cerca de 20 centímetros debaixo da areia.
Esta descoberta explica por que razão as dunas de Badain Jaran, resistem à erosão eólica. «Esta água age como um agente de coesão, dando -lhes uma enorme resistência contra a erosão e os deslizamentos de areia», indica o estudo.
Na perspectiva daqueles investigadores, a água retida debaixo das dunas não provém dos 72 lagos disseminados pela paisagem do Badain Jaran, mas da fusão das neves dos montes Qilian, situados 500 quilómetros a Sudoeste. Assim, a água escorre pelas falhas das montanhas e segue depois, através de camadas profundas das rochas, para finalmente chegar às dunas e aos lagos de Badain Jaran. Qualquer coisa como um gigantesco rio subterrâneo que não tem outra opção senão atravessar o deserto. Segundo os cálculos dos cientistas, 500 milhões de metros cúbicos de água poderão estar contidos debaixo do deserto.
Portanto, estas dunas, contêm gigantescas reservas de água subterrâneas, que poderão suprir a crónica falta de água existente no Norte da China.
Apesar de alguns destes lagos serem de formação recente, outros são muito antigos e possuem uma elevada salinidade.
As vistas são imponentes se considerarmos que algumas das dunas que rodeiam os lagos, podem alcançar os 500 metros de altura. Além disso, as dunas "cantam". Ao entardecer, os ventos fortes que se fazem sentir arrastam as areias dunas abaixo, produzindo um som semelhante ao que é emitido por um enorme sino ou ao produzido por um gigantesco tambor.
O Badain Jaran não é um "mar de morte", como se poderia imaginar. É, antes pelo contrário, um deserto com muita vida. Ali existe um mosteiro budista com os seus monges desde 1755 e pastores com camelos, que vivem no meio das suas gigantescas dunas.
Agora veja esta maravilha da natureza através da apresentação que escolhi para hoje.
quinta-feira, dezembro 16, 2010
História Trágica Com Final Feliz
Regina Pessoa (1969) é uma realizadora portuguesa de cinema de animação.
Viveu numa aldeia perto de Coimbra e a ausência de televisão em casa, fez com que dedicasse o seu tempo livre a ler, a ouvir os mais velhos contar histórias e a desenhar, nas paredes e portas de casa da avó, com carvão.
Foi para o Porto estudar artes e licenciou-se em Pintura na Faculdade de Belas Artes daquela cidade, em 1998. Ainda durante a licenciatura frequentou vários ateliers de animação e participou no Espace Projets (Annecy), em 1995, com A Noite (filme que seria concluído em 1999).
Em 1992, começa a trabalhar no Filmógrafo (Estúdio de Cinema de Animação do Porto), onde colaborou como animadora em vários filmes, a partir de Os Salteadores (1993), de Abi Feijó.
A sua mais recente curta metragem de animação é a História Trágica com Final Feliz (2005), que é o filme português mais premiado de sempre. Vale a pena ver este belo trabalho em que o jogo de claro-escuro está fantástico. Além disso, a história mostra-nos que temos de aprender a viver com os nossos defeitos para que verdadeiramente possamos ser livres.
Não perca!
Viveu numa aldeia perto de Coimbra e a ausência de televisão em casa, fez com que dedicasse o seu tempo livre a ler, a ouvir os mais velhos contar histórias e a desenhar, nas paredes e portas de casa da avó, com carvão.
Foi para o Porto estudar artes e licenciou-se em Pintura na Faculdade de Belas Artes daquela cidade, em 1998. Ainda durante a licenciatura frequentou vários ateliers de animação e participou no Espace Projets (Annecy), em 1995, com A Noite (filme que seria concluído em 1999).
Em 1992, começa a trabalhar no Filmógrafo (Estúdio de Cinema de Animação do Porto), onde colaborou como animadora em vários filmes, a partir de Os Salteadores (1993), de Abi Feijó.
A sua mais recente curta metragem de animação é a História Trágica com Final Feliz (2005), que é o filme português mais premiado de sempre. Vale a pena ver este belo trabalho em que o jogo de claro-escuro está fantástico. Além disso, a história mostra-nos que temos de aprender a viver com os nossos defeitos para que verdadeiramente possamos ser livres.
Não perca!
quarta-feira, dezembro 15, 2010
Um Guia Prático
O governo decidiu que, em Portugal, a aplicação do acordo ortográfico nas escolas, começará no próximo ano letivo e que a administração pública o terá a partir de janeiro de 2012.
Quer queiramos quer não, quer estejamos de acordo ou não, ele entrará em vigor. Assim, deixo-lhe, sob a forma de apresentação, um Guia Prático sobre o Acordo Ortográfico. Se mesmo assim continuar com dúvidas pode consultar, aqui, o Portal da Língua Portuguesa que tem disponível no seu site o download gratuito de um conversor do novo Acordo Ortográfico, o Lince.
Para que melhor possa reflectir sobre o assunto, aproveito, para lhe dar a conhecer a opinião do escritor Francisco José Viegas. Aproveite, também, para ver aqui e aqui outras opiniões.
"É uma corrida contra o tempo e o Brasil está à frente. Portugal esperou que Angola e Moçambique assinassem o protocolo, mas não percebeu que, mal o acordo entrasse em vigor no Brasil, nada havia a fazer e que daqui a uns anos haverá apenas uma versão de ‘português’ na internet.
Cada um escreverá literatura como quiser, e não haverá coimas, perseguições e castigos públicos; mas a existência de uma norma ortográfica não faz mal a ninguém. A língua é uma máquina flutuante e o Português não nos pertence por inteiro. Na verdade, não são as musas que choram; são as consoantes mudas, sobretudo".
Francisco José Viegas
Quer queiramos quer não, quer estejamos de acordo ou não, ele entrará em vigor. Assim, deixo-lhe, sob a forma de apresentação, um Guia Prático sobre o Acordo Ortográfico. Se mesmo assim continuar com dúvidas pode consultar, aqui, o Portal da Língua Portuguesa que tem disponível no seu site o download gratuito de um conversor do novo Acordo Ortográfico, o Lince.
Para que melhor possa reflectir sobre o assunto, aproveito, para lhe dar a conhecer a opinião do escritor Francisco José Viegas. Aproveite, também, para ver aqui e aqui outras opiniões.
"É uma corrida contra o tempo e o Brasil está à frente. Portugal esperou que Angola e Moçambique assinassem o protocolo, mas não percebeu que, mal o acordo entrasse em vigor no Brasil, nada havia a fazer e que daqui a uns anos haverá apenas uma versão de ‘português’ na internet.
Cada um escreverá literatura como quiser, e não haverá coimas, perseguições e castigos públicos; mas a existência de uma norma ortográfica não faz mal a ninguém. A língua é uma máquina flutuante e o Português não nos pertence por inteiro. Na verdade, não são as musas que choram; são as consoantes mudas, sobretudo".
Francisco José Viegas
terça-feira, dezembro 14, 2010
O Corsário Negro versus O Tigre da Malásia
Emilio Salgari (1862 - 1911) foi um escritor italiano, nascido em Verona. Desde muito cedo se interessou pelas viagens marítimas e decidiu ser capitão. Ingressou na Academia Naval de Veneza, alistou-se num barco mercantil e percorreu a costa Adriática. Regressou a Itália onde começou a ganhar o seu sustento com as obras que começaram por ser publicadas em jornais. Mais tarde, casou-se com Ida Peruzzi, de quem teve quatro filhos. Mesmo com o êxito dos livros, os problemas económicos não deixaram de o perseguir. Depois da morte da esposa, Emilio Salgari decidiu acabar com a vida, cometendo harakiri.
É pacífico, porém, que Salgari jamais sulcou outros mares que não os do seu país e os da sua imaginação e que nunca conheceu outros piratas senão os dos seus livros.
Os jornais estrangeiros, a literatura de viagens e as enciclopédias inspiraram os enredos aventurosos dos quatro principais ciclos da sua produção literária (Piratas da Malásia; Corsários das Antilhas; Corsários das Bermudas e Far-West). Os seus heróis são proscritos, fora-da-lei ou «bárbaros» perseguidos pela avidez de colonizadores «civilizados».
De entre as suas obras gostaria de destacar: O Corsário Negro; O Tigre da Malásia; Os Piratas da Malásia e As Maravilhas do Ano 2000.
As maravilhosas e fantásticas aventuras de Sandokan, o "Tigre da Malásia"; retratam o pirata mais carismático dos mares, fruto da imaginação prodigiosa deste escritor italiano (livro recomendado para o 6º ano de escolaridade, pelo Plano Nacional de Leitura, destinado a leitura autónoma e/ou a leitura orientada por pais e professores).
"O Corsário Negro” é, sem dúvida, uma das suas mais conhecidas obras. Escrito numa altura (1898) em que o cinema ainda não imaginava onde iria chegar, a acção de “O Corsário Negro” decorre a um ritmo que se poderia chamar de cinematográfico – começa logo na primeira linha: “Uma voz forte de vibração metálica retumbara nas trevas, lançando esta frase ameaçadora: "Homens da canoa! Alto ou meto-os a pique!”
A vingança dá o mote para o arranque desta aventura. O Corsário Negro (o fidalgo italiano Emilio de Roccanera) persegue Wan Guld, um duque flamengo governador Maracaíbo e responsável pela morte dos seus irmãos (Corsário Verde e Corsário Vermelho), que jurou matar, assim como a todos os seus parentes.
É pacífico, porém, que Salgari jamais sulcou outros mares que não os do seu país e os da sua imaginação e que nunca conheceu outros piratas senão os dos seus livros.
Os jornais estrangeiros, a literatura de viagens e as enciclopédias inspiraram os enredos aventurosos dos quatro principais ciclos da sua produção literária (Piratas da Malásia; Corsários das Antilhas; Corsários das Bermudas e Far-West). Os seus heróis são proscritos, fora-da-lei ou «bárbaros» perseguidos pela avidez de colonizadores «civilizados».
De entre as suas obras gostaria de destacar: O Corsário Negro; O Tigre da Malásia; Os Piratas da Malásia e As Maravilhas do Ano 2000.
As maravilhosas e fantásticas aventuras de Sandokan, o "Tigre da Malásia"; retratam o pirata mais carismático dos mares, fruto da imaginação prodigiosa deste escritor italiano (livro recomendado para o 6º ano de escolaridade, pelo Plano Nacional de Leitura, destinado a leitura autónoma e/ou a leitura orientada por pais e professores).
"O Corsário Negro” é, sem dúvida, uma das suas mais conhecidas obras. Escrito numa altura (1898) em que o cinema ainda não imaginava onde iria chegar, a acção de “O Corsário Negro” decorre a um ritmo que se poderia chamar de cinematográfico – começa logo na primeira linha: “Uma voz forte de vibração metálica retumbara nas trevas, lançando esta frase ameaçadora: "Homens da canoa! Alto ou meto-os a pique!”
A vingança dá o mote para o arranque desta aventura. O Corsário Negro (o fidalgo italiano Emilio de Roccanera) persegue Wan Guld, um duque flamengo governador Maracaíbo e responsável pela morte dos seus irmãos (Corsário Verde e Corsário Vermelho), que jurou matar, assim como a todos os seus parentes.
segunda-feira, dezembro 13, 2010
Sleepbox: novidade em Paris
Apesar da crise apetece-nos viajar e sonhar com viagens. Paris será sempre uma escolha auspiciosa.
Mas, como as possibilidades financeiras são cada vez menores, não sobejam muitas opções de alojamento.
Quer dizer… agora já há uma solução para que se possa usufruir de umas merecidas férias familiares, sem desembolsar muito no alojamento.
Vai haver muita gente a DEIXAR DE PAGAR HOTÉIS, quando viajar para PARIS...
Depois dos quartos de banho químicos, os franceses aparecem com esta boa novidade...
Chegou a Sleepbox ao Aeroporto Charles de Gaulle em Paris.
Como o nome indica, trata-se de uma caixa de 2m x 1,40m x 2,30m que lhe permite ter momentos de descanso e de sono tranquilo numa cidade, sem perder tempo à procura de hotel.
Idealizada para estações de caminhos-de-ferro, aeroportos, locais públicos, ou outros sítios onde haja muita gente exausta.
Qualquer pessoa pode passar a noite em segurança e de forma barata. Este espaço possui cama e está equipado com sistema de mudança automática de lençóis, ventilação, alerta sonoro, televisão LCD incorporada, WiFi, plataforma para um computador portátil e fones recarregáveis. Há, também, um espaço para as malas. O pagamento é feito em terminais, que dão ao cliente a chave (electrónica) que lhe permitirá usufruir da sleepbox desde uns escassos 15 minutos até várias horas.
Veja agora as instalações para que se possa decidir!
Mas, como as possibilidades financeiras são cada vez menores, não sobejam muitas opções de alojamento.
Quer dizer… agora já há uma solução para que se possa usufruir de umas merecidas férias familiares, sem desembolsar muito no alojamento.
Vai haver muita gente a DEIXAR DE PAGAR HOTÉIS, quando viajar para PARIS...
Depois dos quartos de banho químicos, os franceses aparecem com esta boa novidade...
Chegou a Sleepbox ao Aeroporto Charles de Gaulle em Paris.
Como o nome indica, trata-se de uma caixa de 2m x 1,40m x 2,30m que lhe permite ter momentos de descanso e de sono tranquilo numa cidade, sem perder tempo à procura de hotel.
Idealizada para estações de caminhos-de-ferro, aeroportos, locais públicos, ou outros sítios onde haja muita gente exausta.
Qualquer pessoa pode passar a noite em segurança e de forma barata. Este espaço possui cama e está equipado com sistema de mudança automática de lençóis, ventilação, alerta sonoro, televisão LCD incorporada, WiFi, plataforma para um computador portátil e fones recarregáveis. Há, também, um espaço para as malas. O pagamento é feito em terminais, que dão ao cliente a chave (electrónica) que lhe permitirá usufruir da sleepbox desde uns escassos 15 minutos até várias horas.
Veja agora as instalações para que se possa decidir!
domingo, dezembro 12, 2010
Venho brincar aqui no Português
Hoje proponho-lhe a leitura de um texto fabuloso do escritor moçambicano Mia Couto.
Saboreie a escrita e a originalidade deste escrevinhador que brinca com a língua portuguesa.
"Venho brincar aqui no Português, a língua. Não aquela que outros embandeiram. Mas a língua nossa, essa que dá gosto a gente namorar e que nos faz a nós, moçambicanos, ficarmos mais Moçambique. Que outros pretendam cavalgar o assunto para fins de cadeira e poleiro pouco me acarreta.
A língua que eu quero é essa que perde função e se torna carícia. O que me apronta é o simples gosto da palavra, o mesmo que a asa sente aquando o voo. Meu desejo é desalisar a linguagem, colocando nela as quantas dimensões da Vida. E quantas são? Se a Vida tem é idimensões? Assim, embarco nesse gozo de ver como escrita e o mundo mutuamente se desobedecem. Meu anjo-da-guarda, felizmente, nunca me guardou.
Uns nos acalentam: que nós estamos a sustentar maiores territórios da lusofonia. Nós estamos simplesmente ocupados a sermos. Outros nos acusam: nós estamos a desgastar a língua. Nos falta domínio, carecemos de técnica. Ora qual é a nossa elegância? Nenhuma, excepto a de irmos ajeitando o pé a um novo chão. Ou estaremos convidando o chão ao molde do pé? Questões que dariam para muita conferência, papelosas comunicações. Mas nós, aqui na mais meridional esquina do Sul, estamos exercendo é a ciência de sobreviver. Nós estamos deitando molho sobre pouca farinha a ver se o milagre dos pães se repete na periferia do mundo, neste sulbúrbio.
No enquanto, defendemos o direito de não saber, o gosto de saborear ignorâncias. Entretanto, vamos criando uma língua apta para o futuro, veloz como a palmeira, que dança todas as brisas sem deslocar seu chão. Língua artesanal, plástica, fugidia a gramáticas.
Esta obra de reinvenção não é operação exclusiva dos escritores e linguistas. Recriamos a língua na medida em que somos capazes de produzir um pensamento novo, um pensamento nosso. O idioma, afinal, o que é senão o ovo das galinhas de ouro?
Estamos, sim, amando o indomesticável, aderindo ao invisível, procurando os outros tempos deste tempo. Precisamos, sim, de senso incomum. Pois, das leis da língua, alguém sabe as certezas delas? Ponho as minhas irreticências. Veja-se, num sumário exemplo, perguntas que se podem colocar à língua:
- Se pode dizer de um careca que tenha couro cabeludo?
- No caso de alguém dormir com homem de raça branca é então que se aplica a expressão: passar a noite em branco?
- O mato desconhecido é que é o anonimato
- O pequeno viaduto é um abreviaduto?
- Como é que o mecânico faz amor? Mecanicamente.
- Quem vive numa encruzilhada é um encruzilhéu?
- Se diz do brado de bicho que não dispõe de vértebras: o invertebrado?
- Tristeza do boi vem de ele não se lembrar que bicho foi na última reencarnação. Pois se ele, em anterior vida, beneficiou de chifre o que está ocorrendo não é uma reencornação?
- O elefante que nunca viu mar, sempre vivendo no rio: devia ter marfim ou riofim?
- Onde se esgotou a água se deve dizer: “aquabou”?
- Não tendo sucedido em Maio mas em Março o que ele teve foi um desmaio ou um desmarço?
- Quando a paisagem é de admirar constrói-se um admiradouro?
- Mulher desdentada pode usar fio dental?
- A cascavel a quem saiu a casca fica só uma vel?
- As reservas de dinheiro são sempre finas. Será daí que vem o nome: “finanças”?
- Um tufão pequeno: um tufinho?
- O cavalo duplamente linchado é aquele que relincha?
- Em águas doces alguém se pode salpicar?
- Adulto pratica adultério. E um menor: será que pratica minoritério?
- Um viciado no jogo de bilhar pode contrair bilharziose?
- Um gordo, tipo barril, é um barrilgudo?
- Borboleta que insiste em ser ninfa: é ela a tal ninfomaníaca?
Brincadeiras, brincriações. E é coisa que não se termina. Lembro a camponesa da Zambézia. Eu falo português corta-mato, dizia. Sim, isso que ela fazia é, afinal, trabalho de todos nós.
Colocámos essoutro português – o nosso português – na travessia dos matos, fizemos com que ele se descalçasse pelos atalhos da savana.
Nesse caminho lhe fomos somando colorações. Devolvemos cores que dela haviam sido desbotadas – o racionalismo trabalha que nem lixívia. Urge ainda adicionar-lhe músicas e enfeites, somar-lhe o volume da superstição e a graça da dança. É urgente recuperar brilhos antigos. Devolver a estrela ao planeta dormente".
Mia Couto
Saboreie a escrita e a originalidade deste escrevinhador que brinca com a língua portuguesa.
"Venho brincar aqui no Português, a língua. Não aquela que outros embandeiram. Mas a língua nossa, essa que dá gosto a gente namorar e que nos faz a nós, moçambicanos, ficarmos mais Moçambique. Que outros pretendam cavalgar o assunto para fins de cadeira e poleiro pouco me acarreta.
A língua que eu quero é essa que perde função e se torna carícia. O que me apronta é o simples gosto da palavra, o mesmo que a asa sente aquando o voo. Meu desejo é desalisar a linguagem, colocando nela as quantas dimensões da Vida. E quantas são? Se a Vida tem é idimensões? Assim, embarco nesse gozo de ver como escrita e o mundo mutuamente se desobedecem. Meu anjo-da-guarda, felizmente, nunca me guardou.
Uns nos acalentam: que nós estamos a sustentar maiores territórios da lusofonia. Nós estamos simplesmente ocupados a sermos. Outros nos acusam: nós estamos a desgastar a língua. Nos falta domínio, carecemos de técnica. Ora qual é a nossa elegância? Nenhuma, excepto a de irmos ajeitando o pé a um novo chão. Ou estaremos convidando o chão ao molde do pé? Questões que dariam para muita conferência, papelosas comunicações. Mas nós, aqui na mais meridional esquina do Sul, estamos exercendo é a ciência de sobreviver. Nós estamos deitando molho sobre pouca farinha a ver se o milagre dos pães se repete na periferia do mundo, neste sulbúrbio.
No enquanto, defendemos o direito de não saber, o gosto de saborear ignorâncias. Entretanto, vamos criando uma língua apta para o futuro, veloz como a palmeira, que dança todas as brisas sem deslocar seu chão. Língua artesanal, plástica, fugidia a gramáticas.
Esta obra de reinvenção não é operação exclusiva dos escritores e linguistas. Recriamos a língua na medida em que somos capazes de produzir um pensamento novo, um pensamento nosso. O idioma, afinal, o que é senão o ovo das galinhas de ouro?
Estamos, sim, amando o indomesticável, aderindo ao invisível, procurando os outros tempos deste tempo. Precisamos, sim, de senso incomum. Pois, das leis da língua, alguém sabe as certezas delas? Ponho as minhas irreticências. Veja-se, num sumário exemplo, perguntas que se podem colocar à língua:
- Se pode dizer de um careca que tenha couro cabeludo?
- No caso de alguém dormir com homem de raça branca é então que se aplica a expressão: passar a noite em branco?
- O mato desconhecido é que é o anonimato
- O pequeno viaduto é um abreviaduto?
- Como é que o mecânico faz amor? Mecanicamente.
- Quem vive numa encruzilhada é um encruzilhéu?
- Se diz do brado de bicho que não dispõe de vértebras: o invertebrado?
- Tristeza do boi vem de ele não se lembrar que bicho foi na última reencarnação. Pois se ele, em anterior vida, beneficiou de chifre o que está ocorrendo não é uma reencornação?
- O elefante que nunca viu mar, sempre vivendo no rio: devia ter marfim ou riofim?
- Onde se esgotou a água se deve dizer: “aquabou”?
- Não tendo sucedido em Maio mas em Março o que ele teve foi um desmaio ou um desmarço?
- Quando a paisagem é de admirar constrói-se um admiradouro?
- Mulher desdentada pode usar fio dental?
- A cascavel a quem saiu a casca fica só uma vel?
- As reservas de dinheiro são sempre finas. Será daí que vem o nome: “finanças”?
- Um tufão pequeno: um tufinho?
- O cavalo duplamente linchado é aquele que relincha?
- Em águas doces alguém se pode salpicar?
- Adulto pratica adultério. E um menor: será que pratica minoritério?
- Um viciado no jogo de bilhar pode contrair bilharziose?
- Um gordo, tipo barril, é um barrilgudo?
- Borboleta que insiste em ser ninfa: é ela a tal ninfomaníaca?
Brincadeiras, brincriações. E é coisa que não se termina. Lembro a camponesa da Zambézia. Eu falo português corta-mato, dizia. Sim, isso que ela fazia é, afinal, trabalho de todos nós.
Colocámos essoutro português – o nosso português – na travessia dos matos, fizemos com que ele se descalçasse pelos atalhos da savana.
Nesse caminho lhe fomos somando colorações. Devolvemos cores que dela haviam sido desbotadas – o racionalismo trabalha que nem lixívia. Urge ainda adicionar-lhe músicas e enfeites, somar-lhe o volume da superstição e a graça da dança. É urgente recuperar brilhos antigos. Devolver a estrela ao planeta dormente".
Mia Couto
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