terça-feira, maio 10, 2022

O Pássaro Eu

Chamo-me pássaro Pablo,

ave de uma pena só,

voador na escuridão clara

e claridade confusa,

minhas asas não são vistas,

os ouvidos me retumbam

quando passo entre as árvores

ou por debaixo das tumbas

qual funesto guarda-chuva

ou como espada desnuda,

estirado como um arco

ou redondo como uma uva,

voo e voo sem saber,

ferido na noite escura,

aqueles que vão me esperar,

os que não querem meu canto,

os que me querem ver morto,

os que não sabem que chego

e não virão para vencer-me,

a sangrar-me, a retorcer-me

ou beijar minha roupa rota

pelo sibilante vento.

Por isso eu volto e vou,

voo mas não voo, mas canto:

pássaro furioso sou

da tempestade tranquila.

Pablo Neruda

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