sábado, novembro 23, 2013

Interrogação

Neste tormento inútil, neste empenho
 De tornar em silêncio o que em mim canta,
 Sobem-me roucos brados à garganta
 Num clamor de loucura que contenho.

Ó alma da charneca sacrossanta,
 Irmã da alma rútila que eu tenho,
 Dize para onde eu vou, donde é que venho
 Nesta dor que me exalta e me alevanta!

Visões de mundos novos, de infinitos,
 Cadências de soluços e de gritos,
 Fogueira a esbrasear que me consome!

Dize que mão é esta que me arrasta?
 Nódoa de sangue que palpita e alastra…
 Dize de que é que eu tenho sede e fome?!
Florbela Espanca

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