terça-feira, outubro 24, 2017

Meu poeta predileto

Oiça o cantor brasileiro Fabio Brazza em Meu Poeta Predileto.
Neste vídeo Fabio faz uma bela homenagem, em verso e música, ao seu avô Ronaldo Azeredo, poeta concretista brasileiro. Ora veja.

Foi meu avô meu velho
Minha maior influência
Se com ele me assemelho
Não é por coincidência
Ele sempre foi meu espelho
E de conselho em conselho
Me regava a consciência
A poesia era sua ciência
A paciência sua maior virtude
Suas noites de boemia
Lhe tiraram a saúde,
Mas lhe trouxeram vivência
Graças a Deus que eu pude
Durante parte da minha juventude
Desfrutar de tamanha experiência
Seu passo era devagar
Sua fala era pouca
Mas quando ele abria a boca
Todos paravam pra escutar
Trazia a sabedoria ao seu lado
E até mesmo calado
Tinha algo pra ensinar
Sua inteligência era acima da média
Em sua casa tinha uma biblioteca
Fonte de cultura que nunca seca
Mais entendimento que uma enciclopédia
Despertou em mim a sede por conhecimento
Mas seu maior ensinamento
Talvez ele nem notasse
Vinha dos seus simples modos
Sua maneira de falar com todos
Sem rigor de cor ou classe
Do barbeiro ao camelô
Todos amavam meu avô
Por sua simpatia natural
Ao ver aquilo eu queria ser igual
E sem perceber eu aprendia
Mais que qualquer livro que eu lia
Que a poesia mais bonita
É aquela que não é escrita
Mas que se faz no dia a dia
E quando meu avô faleceu
E seu nome apareceu no jornal
Foi uma surpresa geral
Que noticia inusitada
O seu Ronaldo era poeta?
Mas ele nunca disse nada?
Talvez porque ele não quisesse ser visto
Com o olhar de quem faz poemas
Queria ser apenas mais um Zé ninguém
“O poeta é um Zé ninguém”
Ele próprio dizia
e aquele que grande se acha
é um homem que se rebaixa
e não merece a poesia
Hoje meu velho está no céu
Sentado na mesa de algum bar
Talvez jogando bilhar
com o grande Rui chapéu
Ou quem sabe ao lado de Noel
Escrevendo versos no guardanapo
Batendo um papo sobre a sua querida Vila Isabel
É Vô , depois da sua partida
Muita coisa aconteceu
O seu neto cresceu
E resolveu poetizar a vida
Não me tornei poeta concreto
Mas herdei, graças à genética
Um pouco dessa veia poética
Só que com outro dialeto
E por toda parte do trajeto
Carrego comigo seus trejeitos
Tentando continuar seus feitos
Com o mesmo labor e afeto
Espero que daí de cima
Se orgulhe de cada rima
E do rumo que tomou o seu neto
Eu sou a semente que você plantou
Sou o fruto do meu Avô
Meu poeta predileto!

Sem comentários: