quarta-feira, maio 30, 2012

Sentado nesta rocha

Sentado nesta rocha e quase
tão paciente como ela
pergunto-me se os nossos pensamentos
serão diferentes.
É certo que tenho ouvidos
e ela não, olfacto e ela não
- mas que sei eu
das suas sensações?
Que direi do pó incansável
que em mim canta e balança
e se afasta para outro lugar?
Saberá ela que sou um homem quase acabado?
Eu, o que sei dela?
Há um sol que se levanta
e vagas e brisas salgadas
que se transformam em espuma
- há uma sombra num país distante
que a todos espera
- é o que temos em comum.
Inclino-me sob o vento
para defender a minha natureza.
Ela também.
A rocha saberá o calendário?
Casimiro de Brito (in Arte de Bem Morrer)

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