terça-feira, outubro 05, 2010

Passaram 100 anos

Hoje comemora-se o centenário da revolução republicana (5 de Outubro de 2010). Esta é uma data histórica e como tal não poderia deixar de ser assinalada.
Trata-se de uma data relevante na nossa História - e extremamente inovadora na Europa - porque a nossa foi a terceira República europeia a ser instaurada, depois da França e da Suíça.
No início do século XX a regra no mundo eram os impérios e as monarquias. A excepção verificava-se no continente americano, nomeadamente na América do Norte, que foi a República que serviu de exemplo a todas as outras ibero-americanas.
Com a institucionalização da República as mulheres portuguesas ganharam mais direitos cívicos, sem que isso se verificasse no que se refere aos direitos políticos. Contudo o seu activismo cívico e associativo conheceu um enorme desenvolvimento.
Não poderia deixar hoje, 100 anos depois, de evocar algumas das mais destacadas figuras de mulheres do período inicial da República, designadamente: Adelaide Cabete (1867-1935), médica ginecologista, professora e grande feminista. Adelaide Cabete lutou contra o flagelo da mortalidade infantil, do alcoolismo feminino e da prostituição. Fundou, também, a Liga Republicana das Mulheres Portuguesas e o Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas e organizou o I Congresso Feminista e de Educação.
Ana de Castro Osório (1872-1935), foi outra personalidade que se evidenciou como escritora, em especial de literatura infantil (é considerada a fundadora da literatura infantil em Portugal, tendo escrito, novelas, romances e peças de teatro), editora, pedagoga, publicista, conferencista e defensora dos ideais republicanos. Foi também fundadora da Liga Republicana das Mulheres Portuguesas e esteve ligada a outros movimentos feministas.
Angelina Vidal (1853-1917), foi professora, jornalista e propagandista dos direitos dos operários, nomeadamente das mulheres. Era uma republicana assumida, com intervenções públicas de cariz social.
Carolina Beatriz Ângelo (1877-1911), era médica (foi a primeira mulher a operar no Hospital de S. José) e foi primeira eleitora portuguesa, em 1911. Pertenceu a várias organizações feministas, tendo dirigido a Associação de Propaganda Feminista.
Carolina Michaëlis de Vasconcelos (1851-1925), era romancista e destacou-se no ensino, tendo sido a primeira mulher admitida como professora universitária na Faculdade de Letras de Coimbra. É uma personalidade importante na história da língua portuguesa.
Emília de Sousa Costa (1877-1959), foi escritora e defensora da educação feminina. Contribuiu para a criação da Caixa de Auxílio a Raparigas Estudantes Pobres, leccionou na Tutoria Central de Lisboa, instituição para crianças delinquentes ou abandonadas e pertenceu ao Conselho Central da Federação Nacional dos Amigos das Crianças.
Maria Veleda (1871-1955), foi professora do ensino primário, foi escritora para crianças e fez parte da Liga Republicana de Mulheres Portuguesas e do Grupo Português de Estudos Feministas, sendo defensora da emancipação e participação política das mulheres.
Virgínia Quaresma (1882-1973), jornalista, distinguiu-se pelas suas reportagens de teor político e social, designadamente nos jornais O Século e A Capital e, também, no Brasil. Foi das primeiras mulheres a licenciarem-se pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, tendo sido condecorada com a Ordem de Santiago pelos serviços prestados ao país durante a Grande Guerra.
Amélia Santos foi uma heroína popular que ajudou os combatentes posicionados na Rotunda, no dia 5 de Outubro de 1910.
Estas foram algumas das muitas mulheres que ao longo destes 100 anos lutaram pelos direitos com que hoje convivemos quase diariamente. Mulheres combativas, corajosas e lutadores, mas, injustamente esquecidas. Não poderia, especialmente hoje, deixar de as lembrar.
A luta pela instrução, protecção, saúde e educação cívica das crianças e das mulheres foi o princípio orientador das suas acções. Segundo elas só a educação podia contribuir para a emancipação das mulheres e a construção de uma sociedade mais justa e um mundo melhor.
Todas elas constituíram a vanguarda do movimento social da emancipação feminina, um importante núcleo da propaganda republicana e um precioso contributo para a defesa e consolidação dos ideais da liberdade e democracia.

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