sexta-feira, abril 06, 2018

O Fandango

No século XVIII já se falava da dança do Fandango, tida como originária de Espanha, apesar de alguns autores admitirem nela reminiscências de danças árabes.

Mas o Fandango enraizou-se em Portugal há muito tempo e é bailado em quase todo o país.

Bocage se referia a esta dança e Gil Vicente usou, por vezes, o termo "esfandangado".

Em tempos passados, o fandango era caracterizado por ser dançado pela mulher de forma sensual. Ao mesmo tempo, o homem galanteava a mulher, cantava e gritava, juntando também gestos, na época considerados obscenos. Era tido como uma dança de sedução entre homem e mulher.

No início do Século XIX, o Fandango era dançado e, por vezes, cantado pelos vários estratos sociais, sendo considerado por alguns visitantes estrangeiros como a verdadeira dança nacional. Ao longo da sua história foi dançado e bailado, tanto em salões nobres e teatros populares de Lisboa, como nas ruas, feiras, festas e tabernas, normalmente entre homem e mulher, entre pares de homens ou entre pares de mulheres.

Hoje em dia, o Fandango é dançado em quase todas as províncias de Portugal, através das mais diversas formas musicais e coreográficas.

Actualmente existem, só no Ribatejo, quase vinte variantes de fandangos, tocados não só por acordeons, mas também por pífaros, gaitas-de-beiços, harmónios e clarinetes.

Nas suas variadas nuances, o fandango pode ser também uma versão apenas instrumental, pode ser cantado, dançado em roda ou dançado a pares com várias combinações - homem/homem (mais frequente), homem/mulher (nalguns casos) e mulher/mulher (raramente), para além de pequenos grupos.

No Ribatejo, a versão mais conhecida é aquela que se denomina por "Fandango da Lezíria", dançada entre dois campinos vestidos com "fato de gala". Trata-se de uma dança de agilidade entre dois homens, onde se adivinha uma espécie de torneio de jogo de pés, em que o homem pretende atrair as atenções femininas, através da destreza dos seus movimentos, promovendo a coragem, a altivez e a vaidade do homem ribatejano.

O poeta Augusto Barreiros, num trabalho ao qual intitulou de “Aguarela Ribatejana”, escreve assim sobre o Fandango:

"A dança é uma briga. Um duelo frenético em que dois competidores se medem, a princípio receosos, logo mais desenvoltados. Os sapatos de salto de prateleira, a que teve o cuidado de tirar as esporas, exigem resposta pronta às frases cantadas que atiram de jacto. O homem quer ganhar a sua vitória (...)".
O Fandango está enraizado entre os portugueses, mas é, por excelência, a dança ribatejana, descrevendo na perfeição aquilo que foi e ainda é o Ribatejo". - Fonte:  "Info Lezíria do Tejo", Revista da Comunidade Intermunicipal da Lezíria do Tejo, de Abril/Maio/Junho de 2004.

Há várias teorias sobre a verdadeira origem do Fandango, seja a andaluz com reminiscências árabes, seja outras que vão para norte, até à Irlanda, onde se dança de forma semelhante à nossa versão ribatejana (metade de cima do corpo erecto e inflexível, metade de baixo do corpo em total frenesim), importa acima de tudo reforçar o carácter de disputa que o fandango ganhou no Ribatejo.


Uma batalha de galanteio com o objetivo de chamar a atenção das mulheres.

Os portugueses levaram o Fandango para o Brasil onde se descortina a influência lusa no fandango caiçara, esse sim, com reconhecíveis afinidades com o nosso.
  • NOTA: Caiçara é um termo de origem tupi e refere-se aos habitantes tradicionais do litoral das regiões Sudeste e Sul do Brasil, formados a partir da miscigenação entre índios, brancos e negros. As comunidades caiçaras surgiram a partir do sec. XVI.
E agora assista ao Fandango do Varapau:

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