quarta-feira, setembro 23, 2020

A Inigualável

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Ai, como eu te queria toda de violetas

E flébil de setim...

Teus dedos longos, de marfim,

Que os sombreassem joias pretas..


E tão febril e delicada

Que não pudesses dar um passo -

Sonhando estrelas, transtornada,

Com estampas de côr no regaço...


Queria-te nua e friorenta,

Aconchegando-te em zibelinas -

Sonolenta,

Ruiva de éteres e morfinas...


Ah! que as tuas nostalgias fossem guizos de prata -

Teus frenesis, lantejoulas;

E os ócios em que estiolas,

Luar que se desbarata...

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

Teus beijos, queria-os de tule,

Transparecendo carmim -

Os teus espasmos, de seda...


- Água fria e clara numa noite azul,

Água, devia ser o teu amor por mim...


Mário de Sá-Carneiro - "Indícios de Oiro"





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