segunda-feira, março 21, 2011

Aprendiz na Oficina da Poesia

Não rimes.
Ou rima, se quiseres,
mas não violentes
a palavra.
Não busques ansioso,
qual amante inexperiente,
a palavra.

Espera antes
a sua vinda.

Música e rima
são acessórios dispensáveis:
O poema é outra coisa.

Deixa, pois
que as palavras acordem
na matriz
e caiam maduras.
Áridas ou frias,
secas e imperturbáveis,
orvalhadas, humildes,
estropiadas até,
que sejam precisas,
prenhes de significado.

Espera as palavras.
Elas viajam misteriosas,
desconhecidas ainda,
elas germinam
em ti.

Caem. Juntam-se.
Doloridas, feias
sob o visco placentário,
deselegantes por vezes,
elas procuram-se
e organizam-se.

Juntas transcendem-se,
há algo de íntimo,
coeso e secreto
nelas.

O poema está aí.
Rui Knopfli

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