sexta-feira, junho 12, 2009

Prelúdio

Pela estrada desce a noite
Mãe - Negra desce com ela.

Nem buganvílias vermelhas,
nem vestidinhos de folhos,
nem brincadeiras de guizos
nas suas mãos apertadas...

Só duas lágrimas grossas,
em duas faces cansadas.

Mãe - Negra tem voz de vento,
voz de silêncio batendo
nas folhas do cajueiro...

Tem voz de noite descendo,
de mansinho pela estrada…

Que é feito desses meninos
que gostava de embalar?...

Que é feito desses meninos
que ela ajudou a criar?
Quem ouve agora as histórias
que costumava contar?...

Mãe - Negra não sabe nada…

Mas ai de quem sabe tudo,
como eu sei tudo,
Mãe – Negra!...

Os teus meninos cresceram,
e esqueceram as histórias
que costumavas contar...

Muitos partiram p’ra longe,
quem sabe se hão de voltar!...

Só tu ficaste esperando,
mãos cruzadas no regaço,
bem quieta, bem calada.

É tua a voz deste vento,
desta saudade descendo,
de mansinho pela estrada...

Alda Lara
(Poemas – Obra Completa
de Alda Lara,
Editora Capricórnio,
Lobito 1973)



Veja agora o vídeo, em que Paulo de Carvalho e Sofia Barbosa, interpretam este belíssimo poema de Alda Lara.

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