sábado, dezembro 20, 2008

Falavam-me de Amor

Falavam-me de Amor

Quando um ramo de doze badaladas
se espalhava nos móveis e tu vinhas

solstício de mel pelas escadas

de um sentimento com nozes e com pinhas,

menino eras de lenha e crepitavas
porque do fogo o nome antigo tinhas

e em sua etern
idade colocavas
o que a infância pedia às andorinhas.


Depois nas folhas secas te envolvias
de trezentos e muitos lerdos dias

e eras um sol na sombra flagelado.


O fel que por nós bebes te liberta

e no manso natal que te conserta

só tu ficaste a ti acostumado.

Natália Correia O Dilúvio e a Pomba Lisboa, Publicações D. Quixote, 1979

quinta-feira, dezembro 18, 2008

Natal segundo Pessoa

Natal
Nasce um Deus. Outros morrem. A Verdade
Nem veio nem se foi: o Erro mudou.
Temos agora uma outra Eternidade,
E era sempre melhor o que passou.

Cega, a Ciência a inútil gleba lavra.
Louca, a Fé vive o sonho do seu culto.
Um novo deus é só uma palavra.
Não procures nem creias: tudo é oculto.

Fernando Pessoa (Cancioneiro)

Chove. É dia de Natal.
Lá para o Norte é melhor:
Há a neve que faz mal,
E o frio que ainda é pior.

E toda a gente é contente
Porque é dia de o ficar.
Chove no Natal presente.
Antes isso que nevar.


Pois apesar de ser esse
O Natal da convenção,
Quando o corpo me arrefece
Tenho o frio e Natal não.



Deixo sentir a quem quadra
E o Natal a quem o fez,
Pois se escrevo ainda outra quadra
Fico gelado dos pés.

Fernando Pessoa (Cancioneiro)

terça-feira, dezembro 16, 2008

Natal

NATAL À BEIRA-RIO
É o braço do abeto a bater na vidraça?
E o ponteiro peq
ueno a caminho da meta!
Cala-te, vento velho!É o Natal que passa,
A trazer-me da água a infância re
ssurrecta.
Da casa onde nasci via-se perto o rio.

Tão novos os meus Pais, tão novos no passado!

E o Menino nascia a bordo de um navio
Que ficava, no cais, à noite iluminado...
Ó noite de Natal, que travo a maresia!
Depois fui não sei quem que se perdeu na terra.
E quanto mais na terra a terra me envolvia
E quanto mais na terra fazia o norte de quem erra.
Vem tu, Poesia, vem, agora conduzir-me
À beira desse cais onde Jesus nascia...
Serei dos que afinal, errando em terra firme,
Precisam de Jesus, de Mar, ou de Poesia?

David Mourão-Ferreira, Obra Poética 1948-1988 Lisboa, Editorial Presença, 1988


domingo, dezembro 14, 2008

O Deus Menino Nasceu...

Um Pastor Vindo de Longe

Um pastor vindo de longe
À nossa porta bateu
Trouxe recados que dizem
O Deus menino nasceu.
Este recado tivemos
Já meia noite seria
Estrelas do céu lá vamos
Dar parabéns a Maria.
Vamos ter com os mais pastores
Não se percam no caminho
Vamos todos e depressa
Visitar o Deus Menino.
Ai, que formoso Menino!
Ai, que tanta graça tem!
Ai, que tanto se parece
Com sua Senhora

PINHEIRINHO

Pinheirinho
Pinheirinho,Pinheirinho
De ramos verdinhos
P'ra enfeitar, p'ra enfeitar
Bolas, bonequinhos
Uma bola aqui
Uma acolá
Estrelinhas que luzem
Que lindo que está
Olha o Pai Natal
De barbas branquinhas
Trás o saco cheio de lindas prendinhas

Noite Feliz


Noite feliz!
O Senhor, Deus de amor,
Pobrezinho, nasceu em Belém;
Eis na lapa Jesus, nosso bem!
Dorme em paz, ó Jesus!
Dorme em paz, ó Jesus!

Toca o Sino Pequenino...


Toca o sino pequenino

Toca o sino pequenino
Sino de Belém,
Já nasceu o Deus Menino
Que a Senhora tem.

É Natal, é Natal,
Vamos sem demora,
Já nasceu o Deus Menino
Que a Senhora adora.


Natal (Trás-os-Montes)

Bem pudera Deus nascer
Em cama de pedraria;
Mas p'ra dar exemplo ao mundo,
Nasceu numa estrebaria.
Ó meu Menino Jesus,
Vestido de azul-celeste
Hei-de pedir à Senhora
Para ser Ele o meu Mestre.