terça-feira, dezembro 16, 2008

Natal

NATAL À BEIRA-RIO
É o braço do abeto a bater na vidraça?
E o ponteiro peq
ueno a caminho da meta!
Cala-te, vento velho!É o Natal que passa,
A trazer-me da água a infância re
ssurrecta.
Da casa onde nasci via-se perto o rio.

Tão novos os meus Pais, tão novos no passado!

E o Menino nascia a bordo de um navio
Que ficava, no cais, à noite iluminado...
Ó noite de Natal, que travo a maresia!
Depois fui não sei quem que se perdeu na terra.
E quanto mais na terra a terra me envolvia
E quanto mais na terra fazia o norte de quem erra.
Vem tu, Poesia, vem, agora conduzir-me
À beira desse cais onde Jesus nascia...
Serei dos que afinal, errando em terra firme,
Precisam de Jesus, de Mar, ou de Poesia?

David Mourão-Ferreira, Obra Poética 1948-1988 Lisboa, Editorial Presença, 1988


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