sábado, junho 13, 2015

Santo António

Nasci exactamente no teu dia —
Treze de Junho, quente de alegria,
Citadino, bucólico e humano,
Onde até esses cravos de papel
Que têm uma bandeira em pé quebrado
Sabem rir...
Santo dia profano
Cuja luz sabe a mel
Sobre o chão de bom vinho derramado!

Santo António, és portanto
O meu santo,
Se bem que nunca me pegasses
Teu franciscano sentir,
Católico, apostólico e romano.

(Reflecti.
Os cravos de papel creio que são
Mais propriamente, aqui,
Do dia de S. João...
Mas não vou escangalhar o que escrevi.
Que tem um poeta com a precisão?)

Adiante ... Ia eu dizendo, Santo António,
Que tu és o meu santo sem o ser.
Por isso o és a valer,
Que é essa a santidade boa,
A que fugiu deveras ao demónio.
És o santo das raparigas,
És o santo de Lisboa,
És o santo do povo.
Tens uma auréola de cantigas,
E então
Quanto ao teu coração —
Está sempre aberto lá o vinho novo.

Dizem que foste um pregador insigne,
Um austero, mas de alma ardente e ansiosa,
Etcetera...
Mas qual de nós vai tomar isso à letra?
Que de hoje em diante quem o diz se digne
Deixar de dizer isso ou qualquer outra coisa.

Qual santo! Olham a árvore a olho nu
E não a vêem, de olhar só os ramos.
Chama-se a isto ser doutor
Ou investigador.

Qual Santo António! Tu és tu.
Tu és tu como nós te figuramos.

Valem mais que os sermões que deveras pregaste
As bilhas que talvez não concertaste.
Mais que a tua longínqua santidade
Que até já o Diabo perdoou,
Mais que o que houvesse, se houve, de verdade
No que — aos peixes ou não — a tua voz pregou,
Vale este sol das gerações antigas
Que acorda em nós ainda as semelhanças
Com quando a vida era só vida e instinto,
As cantigas,
Os rapazes e as raparigas,
As danças
E o vinho tinto.

Nós somos todos quem nos faz a história.
Nós somos todos quem nos quer o povo.
O verdadeiro título de glória,
Que nada em nossa vida dá ou traz
É haver sido tais quando aqui andámos,
Bons, justos, naturais em singeleza,
Que os descendentes dos que nós amámos
Nos promovem a outros, como faz
Com a imaginação que há na certeza,
O amante a quem ama,
E o faz um velho amante sempre novo.
Assim o povo fez contigo
Nunca foi teu devoto: é teu amigo,
Ó eterno rapaz.

(Qual santo nem santeza!
Deita-te noutra cama!)
Santos, bem santos, nunca têm beleza.
Deus fez de ti um santo ou foi o Papa? ...
Tira lá essa capa!
Deus fez-te santo! O Diabo, que é mais rico
Em fantasia, promoveu-te a manjerico.

És o que és para nós. O que tu foste
Em tua vida real, por mal ou bem,
Que coisas, ou não coisas se te devem
Com isso a estéril multidão arraste
Na nora de uns burros que puxam, quando escrevem,
Essa prolixa nulidade, a que se chama história,
Que foste tu, ou foi alguém,
Só Deus o sabe, e mais ninguém.

És pois quem nós queremos, és tal qual
O teu retrato, como está aqui,
Neste bilhete postal.
E parece-me até que já te vi.

És este, e este és tu, e o povo é teu —
O povo que não sabe onde é o céu,
E nesta hora em que vai alta a lua
Num plácido e legítimo recorte,
Atira risos naturais à morte,
E cheio de um prazer que mal é seu,
Em canteiros que andam enche a rua.

Sê sempre assim, nosso pagão encanto,
Sê sempre assim!
Deixa lá Roma entregue à intriga e ao latim,
Esquece a doutrina e os sermões.
De mal, nem tu nem nós merecíamos tanto.
Foste Fernando de Bulhões,
Foste Frei António —
Isso sim.
Porque demónio
É que foram pregar contigo em santo?
Fernando Pessoa -  Santo António, São João, São Pedro. Lisboa: A Regra do Jogo, 1986. 

sexta-feira, junho 12, 2015

O Furinho da BIC

As canetas BIC são um sucesso. Todos os dias, milhares delas são vendidas em todo o  mundo.
A motivação para criar uma caneta esferográfica veio de László Bíró, um jornalista húngaro que estava cansado de encher canetas no tinteiro e ter de esperar que a tinta secasse após a escrita.
Em parceria com o irmão György, que era químico, inventaram, então, uma versão comercialmente viável desta caneta.
Em 1938, os irmãos Bíró patentearam o design de uma caneta que trazia uma pequena bolinha na ponta, que rolava e libertava a tinta de um cartucho.
Já agora, sabe para que serve aquele furinho existente na lateral da caneta BIC?  Sabe qual é o segredo daquele furinho?
Em 1950, o fabricante de canetas francês Marcel Bich lançou a sua primeira versão sob a licença dos irmãos Bíró. Como precisava de dar um nome ao seu produto, o empresário adoptou o próprio sobrenome com uma pequena diferença e, criou a “BIC Cristal”. Além disso, ele resolveu mais algumas falhas que o design ainda apresentava e deu início à produção em massa destas esferográficas, a baixo custo.
Foi nesse momento também que surgiu o furinho enigmático que fica na lateral de todas as BIC. Por mais inútil que pareça esse furo, ele serve para igualar a pressão atmosférica dentro e fora da caneta. Sem ele, não seria possível usar o objeto dentro de um avião ou no topo de um prédio bem alto, por exemplo. A diferença de pressão faria com que a caneta rebentasse.
Mas as BIC ainda têm mais um furinho enigmático. A partir de 1991, estas canetas ganharam uma outra abertura na tampa. O objetivo deste furo não é melhorar o funcionamento do objeto, e sim, aumentar a segurança dos seus utilizadores. As tampas têm um furo na ponta devido a uma medida de segurança internacional, que pretende diminuir o risco de que crianças (e os adultos que costumam mastigar canetas BIC também!) se sufoquem com a peça, já que o furo permite a passagem de ar caso a tampa seja engolida. E esta hem?

quinta-feira, junho 11, 2015

O Portugal dos Pequenitos

O Portugal dos Pequenitos é um parque temático concebido e construído como um espaço lúdico, pedagógico e turístico, para mostrar aspectos da cultura e do património português, em Portugal e no mundo. O parque, que se localiza no largo do Rossio de Santa Clara, em Coimbracaracteriza-se por apresentar construções em escala reduzida representando monumentos e outros elementos sobre a cultura e o património edificado português.
Foi iniciado em 1938, por iniciativa do professor Bissaya Barreto, com projeto do arquiteto Cassiano Branco, sendo inaugurado em 8 de junho de 1940, razão pela qual a sua concepção e arquitetura estão fortemente imbuídas do espírito idealista e nacionalista do Estado Novo Português. A sua construção desenvolveu-se em três etapas:
Joana Vasconceles - Portugal dos Pequenitos
- A primeira fase, entre 1938 e 1940, é constituída pelo conjunto de casas regionais portuguesas: solares de Trás-os-Montes e Minho, casas típicas de cada região do país com pomares, hortas e jardins, capelas, azenhas e pelourinhos. A este núcleo, pertence também o conjunto de Coimbra, espaço onde se encontram representados os monumentos mais importantes da cidade;
- A segunda fase integra a chamada "área monumental", espaço ilustrativo dos monumentos mais representativos, de norte a sul do país.
- A terceira fase, concluída em finais da década de 1950, engloba a representação monumental e etnográfica das então províncias ultramarinas em África, do Brasil, de Macau, do Estado Português da Índia e de Timor Português, cercados por exemplares da flora nativa destas regiões. Compreende também as representações dos arquipélagos dos Açores e da Madeira.
O Portugal dos Pequenitos comemorou esta semana os seus 75 anos.  Este Parque pretende construir novos monumentos e modernizar-se para continuar a encantar as sucessivas gerações.
Fonte: Wikipédia   

quarta-feira, junho 10, 2015

Portugal, Portugal

Tiveste gente de muita coragem
E acreditaste na tua mensagem
Foste ganhando terreno
E foste perdendo a memória

Já tinhas meio mundo na mão
Quiseste impor a tua religião
E acabaste por perder a liberdade
A caminho da glória

Ai, Portugal, Portugal
De que é que tu estás à espera?
Tens um pé numa galera
E outro no fundo do mar
Ai, Portugal, Portugal
Enquanto ficares à espera
Ninguém te pode ajudar

Tiveste muita carta para bater
Quem joga deve aprender a perder
Que a sorte nunca vem só
Quando bate à nossa porta

Esbanjaste muita vida nas apostas
E agora trazes o desgosto às costas
Não se pode estar direito
Quando se tem a espinha torta

Ai, Portugal, Portugal
De que é que tu estás à espera?
Tens um pé numa galera
E outro no fundo do mar
Ai, Portugal, Portugal
Enquanto ficares à espera
Ninguém te pode ajudar

Fizeste cegos de quem olhos tinha
Quiseste pôr toda a gente na linha
Trocaste a alma e o coração
Pela ponta das tuas lanças

Difamaste quem verdades dizia
Confundiste amor com pornografia
E depois perdeste o gosto
De brincar com as tuas crianças

Ai, Portugal, Portugal
De que é que tu estás à espera?
Tens um pé numa galera
E outro no fundo do mar
Ai, Portugal, Portugal
Enquanto ficares à espera
Ninguém te pode ajudar

Ai, Portugal, Portugal
De que é que tu estás à espera?
Tens um pé numa galera
E outro no fundo do mar
Ai, Portugal, Portugal
Enquanto ficares à espera
Ninguém te pode ajudar
Jorge Palma

terça-feira, junho 09, 2015

Dance Me To The End Of Love

Oiça Madeleine Peyroux em "Dance Me To The End Of Love".
Madeleine Peyroux (1974) é uma cantora de jazz, que escreve e interpreta as suas próprias composições e letras.
É especialmente lembrada pelo seu estilo vocal, que em muito lembra o da cantora Billie Holiday.

segunda-feira, junho 08, 2015

Ainda as fronteiras


  1. Áustria, Hungria e Eslováquia – Uma curiosa mesa de piquenique marca o local onde as fronteiras dos três países se encontram.







2 - Brasil e Bolívia – A fronteira definida por um rio mostra a diferença de desflorestação na floresta tropical, muito mais intensa no Brasil (a verde claro) do que na Bolívia (a verde escuro).






3- Holanda e Bélgica - A fronteira da cidade de Baarle (dividida entre a Holanda e a Bélgica é considerada a fronteira mais confusa do mundo.
Toda a cidade está rodeada pela Holanda, mas, existem  cerca de "26 pedaços de cidade" que pertencem ou a um ou a outro país.  Por isso, existem marcações de fronteira, como a da foto, em todos os lugares, para esclarecer as coisas.




4-  Espanha e Marrocos – Aqui existem cercas para impedir a imigração ilegal para a Espanha, que marcam a fronteira entre Ceuta e Melilha, duas cidades espanholas totalmente cercadas por Marrocos.


E agora veja o vídeo abaixo, que mostra a curiosa/confusa fronteira existente na cidade de Baarle.
Baarle é uma pequena localidade, com cerca de 9200 habitantes que está dividida em duas comunidades pertencentes a dois países diferentes. Baarle Hertog (Belga, com 2600 habitantes) e Baarle Nassau (holandesa, com 6600 habitantes).
Esta situação remonta ao fim do século XII, devido à disputa entre o Conde de Breda e o Duque de Brabant, que transformou Baarle num puzzle que permanece até aos dias de hoje.  

domingo, junho 07, 2015

70 anos depois

Chris Helgren - Reuters
A Segunda Guerra Mundial foi um conflito militar global que durou de 1939 a 1945, envolvendo a maioria das nações do mundo — incluindo todas as grandes potências — organizadas em duas alianças militares opostas: os Aliados e o Eixo.
Foi a guerra mais abrangente da história, com mais de 100 milhões de militares mobilizados.
Em estado de "guerra total", os principais envolvidos dedicaram toda sua capacidade económica, industrial e científica ao serviço dos esforços de guerra, deixando de lado a distinção entre recursos civis e militares.
A Segunda Guerra foi marcada por um número significativo de ataques contra civis, incluindo o Holocausto e a única vez em que armas nucleares foram utilizadas em combate. Foi o conflito mais letal da história da humanidade, resultando entre 50 a mais de 70 milhões de mortes.
Assinala-se este ano o 70º aniversário deste conflito militar.
Chris Helgren - Reuters
Veja agora, no link abaixo, o que consegue a tecnologia!
Depois de ver cada foto antiga, clique e arraste o rato sobre a mesma e, verá o mesmo ambiente na atualidade.
Se fizer o movimento inverso sobre a foto, voltará a 1944. Para ver tudo isto basta clicar aqui.
Há-de reparar que o património edificado foi mantido, conservado e preservado dentro do possível, mesmo e apesar de ter estado sujeito às consequências nefastas de uma situação de guerra.
Não perca!