sábado, abril 07, 2018

Primavera Nos Dentes

"Primavera nos Dentes" é uma das canções do grupo Secos & Molhados, lançada no seu álbum de estreia. É uma poesia escrita pelo pai de João Ricardo (ator e encenador português), João Apolinário (que foi um poeta e jornalista português que combateu o fascismo em Portugal e nos seus anos de exílio no Brasil. Colaborou em inúmeras publicações importantes nos dois países. É, no entanto, mais conhecido pelos seus poemas, musicados pelo filho João Ricardo e apresentados pelo conjunto Secos e Molhados), e musicada por ele.
A canção é a mais longa lançada pelo grupo, com 4 minutos e 50 segundos. É composta por uma  longa introdução instrumental em Blues, composta por baixo, bateria, guitarra e teclado. A parte vocal da canção, com as vozes de Ney Matogrosso, Gérson Conrad e João Ricardo desagua num grito, após versos poéticos e calmos.
O tempo e a introdução são levemente inspirados em "Breathe", faixa de Dark Side of the Moon dos Pink Floyd.
Quem tem consciência para ter coragem
Quem tem a força de saber que existe
E no centro da própria engrenagem
Inventa a contra-mola que resiste

Quem não vacila mesmo derrotado
Quem já perdido nunca desespera
E envolto em tempestade decepado
Entre os dentes segura a primavera

sexta-feira, abril 06, 2018

O Fandango

No século XVIII já se falava da dança do Fandango, tida como originária de Espanha, apesar de alguns autores admitirem nela reminiscências de danças árabes.

Mas o Fandango enraizou-se em Portugal há muito tempo e é bailado em quase todo o país.

Bocage se referia a esta dança e Gil Vicente usou, por vezes, o termo "esfandangado".

Em tempos passados, o fandango era caracterizado por ser dançado pela mulher de forma sensual. Ao mesmo tempo, o homem galanteava a mulher, cantava e gritava, juntando também gestos, na época considerados obscenos. Era tido como uma dança de sedução entre homem e mulher.

No início do Século XIX, o Fandango era dançado e, por vezes, cantado pelos vários estratos sociais, sendo considerado por alguns visitantes estrangeiros como a verdadeira dança nacional. Ao longo da sua história foi dançado e bailado, tanto em salões nobres e teatros populares de Lisboa, como nas ruas, feiras, festas e tabernas, normalmente entre homem e mulher, entre pares de homens ou entre pares de mulheres.

Hoje em dia, o Fandango é dançado em quase todas as províncias de Portugal, através das mais diversas formas musicais e coreográficas.

Actualmente existem, só no Ribatejo, quase vinte variantes de fandangos, tocados não só por acordeons, mas também por pífaros, gaitas-de-beiços, harmónios e clarinetes.

Nas suas variadas nuances, o fandango pode ser também uma versão apenas instrumental, pode ser cantado, dançado em roda ou dançado a pares com várias combinações - homem/homem (mais frequente), homem/mulher (nalguns casos) e mulher/mulher (raramente), para além de pequenos grupos.

No Ribatejo, a versão mais conhecida é aquela que se denomina por "Fandango da Lezíria", dançada entre dois campinos vestidos com "fato de gala". Trata-se de uma dança de agilidade entre dois homens, onde se adivinha uma espécie de torneio de jogo de pés, em que o homem pretende atrair as atenções femininas, através da destreza dos seus movimentos, promovendo a coragem, a altivez e a vaidade do homem ribatejano.

O poeta Augusto Barreiros, num trabalho ao qual intitulou de “Aguarela Ribatejana”, escreve assim sobre o Fandango:

"A dança é uma briga. Um duelo frenético em que dois competidores se medem, a princípio receosos, logo mais desenvoltados. Os sapatos de salto de prateleira, a que teve o cuidado de tirar as esporas, exigem resposta pronta às frases cantadas que atiram de jacto. O homem quer ganhar a sua vitória (...)".
O Fandango está enraizado entre os portugueses, mas é, por excelência, a dança ribatejana, descrevendo na perfeição aquilo que foi e ainda é o Ribatejo". - Fonte:  "Info Lezíria do Tejo", Revista da Comunidade Intermunicipal da Lezíria do Tejo, de Abril/Maio/Junho de 2004.

Há várias teorias sobre a verdadeira origem do Fandango, seja a andaluz com reminiscências árabes, seja outras que vão para norte, até à Irlanda, onde se dança de forma semelhante à nossa versão ribatejana (metade de cima do corpo erecto e inflexível, metade de baixo do corpo em total frenesim), importa acima de tudo reforçar o carácter de disputa que o fandango ganhou no Ribatejo.


Uma batalha de galanteio com o objetivo de chamar a atenção das mulheres.

Os portugueses levaram o Fandango para o Brasil onde se descortina a influência lusa no fandango caiçara, esse sim, com reconhecíveis afinidades com o nosso.
  • NOTA: Caiçara é um termo de origem tupi e refere-se aos habitantes tradicionais do litoral das regiões Sudeste e Sul do Brasil, formados a partir da miscigenação entre índios, brancos e negros. As comunidades caiçaras surgiram a partir do sec. XVI.
E agora assista ao Fandango do Varapau:

quinta-feira, abril 05, 2018

A Meia-unha

A Meia-unha (mão de vaca com grão) é um prato da tradicional gastronomia lisboeta, pois,  era muito popular nas antigas tabernas de Lisboa.
A designação "Meia-unha" deve-se ao facto de ser servida metade da mão de vaca em cada dose.

Se não sabe como fazer este prato aqui lhe deixo uma Receita:
Ingredientes:
1 mão de vaca (arranjada e aberta ao alto)
1 chouriço de carne
2 cebolas grandes
4 dentes de alho
2 cenouras
2 folhas louro
500 gr grão de bico seco
azeite
salsa
3 ou 4 tomates maduros
1 dl vinho branco
sal
malaguetas ou piripiri
Preparação:
Deixa-se o grão a demolhar em água, de véspera. Coze-se o grão e guarda-se a água da cozedura.
Coze-se a mão de vaca, em água e sal, de preferência na panela de pressão, durante uma hora. Retiram-se os ossos,  partem-se as partes moles em pedaços e reserva-se, bem como algum caldo da cozedura.
Refogam-se as cebolas e alhos picados em azeite juntam-se os tomates cortados em cubos. Adicionam-se as cenouras e o chouriço cortados às rodelas , as malaguetas e o louro.
Deixa-se apurar e junta-se a mão de vaca, rega-se com o vinho branco e um pouco do caldo de cozer o grão e do caldo da mão de vaca.
Retificam-se os temperos e serve-se simples ou acompanhado de arroz branco.

quarta-feira, abril 04, 2018

Pesadelo na Rua Carroll


Pesadelo na Rua Carroll é um filme de suspense (1988) realizado por Peter Yates, que conta como intérpretes: Kelly McGillis, Jeff Daniels, Mandy Patinkin e Jessica Tandy.

Sinopse:
Durante um momento de paranóia anti-comunista, a editora Emily Crane (Kelly McGillis), recusa-se entregar as identidades de colegas que são procurados pelo Comité de Atividades Anti-Americanas e entra na lista negra.
Como precisa de dinheiro, aceita um emprego como dama de companhia de uma senhora (Jessica Tandy) que vive numa casa dos subúrbios.
Depois de começar a trabalhar a sua vida entra num ritmo normal, até que certo dia, ouve pessoas falar em alemão na casa vizinha.  Emily fica também intrigada, com a presença de um senador (Mandy Patinkin) que fez parte do comité que a tinha pressionado.
Sabendo que estava a ser vigiada pelo agente do FBI, Cochran (Jeff Daniels), por causa do problema com o governo, Emily decide falar com ele e contar-lhe a atitude suspeita do senador. A curiosidade levará à descoberta de uma conspiração.
O roteiro do filme mistura a chamada "caça aos comunistas", com a atuação dos nazis que fugiram para outros países após a guerra e foram acobertados por governos ou pessoas influentes.

terça-feira, abril 03, 2018

Os Tapetes de Beiriz

Os tapetes de Beiriz são um produto de artesanato rústico em lã, originários da freguesia de Beiriz, concelho da Póvoa de Varzim, a 30 Km do Porto, em Portugal.

Estas peças de artesanato são produzidas em teares de madeira 100% manuais, sendo este um trabalho extremamente minucioso e que envolve grande pericia.


Estes tapetes celebrizaram-se pelo chamado "ponto de Beiriz", mas também pelo "ponto estrela" e pelo "ponto zagal". A sua característica mais notável é o fato do desenho do tapete se manter quando este é virado do avesso. Os tapetes apresentam desenhos originais com flores como tema predominante. As mulheres, no tear, "cantam" as cores dos cartões e, com uma perícia notável criam modelos de tapeçaria fina que fazem do tapete de Beiriz um excelente embaixador do artesanato do concelho.

A sua origem está na antiga fábrica de Tapetes Beiriz, fundada em  1919, por Hilda Brandão, uma aristocrata portuguesa criada no Brasil e a viver em Beiriz. Disposta a reavivar a tradição da tapeçaria, introduz a técnica do nó Turco, que rapidamente ganhou a designação de nó Beiriz.
Com sucesso imediato, o negócio rapidamente cresceu como sólida industria. Apesar disso, a fábrica viria a encerrar a sua atividade na década de 70.

Em 1988, uma empresária alemã vê na arte de Beiriz uma oportunidade para erguer um negócio. Adquiriu alguns dos teares da antiga empresa e recrutou alguns dos seus ex-trabalhadores, permitindo que Beiriz voltasse a ver produzidos os seus amados tapetes.

Para além de casas particulares, os famosos Tapetes de Beiriz podem ser vistos e pisados nos salões nobres das Câmaras Municipais do Porto e de Lisboa,Teatros Nacionais, Palácios, bem como no Tribunal Internacional de Haia (Países Baixos).

Angola é um dos principais mercados para este tipo de tapeçarias, que podem ser apreciadas em quase todos os edifícios públicos, governamentais e institucionais.

Para além do primor de execução e acabamentos, os tapetes de Beiriz têm como característica, na atualidade, a introdução de elementos de inovação e criatividade. De modo a que surjam produtos ainda mais actuais e versáteis, com novas técnicas, desenhos, materiais e acabamentos.

Se quiser assista, aqui, ao programa televisivo Visita Guiada acerca dos Tapetes de Beiriz e em baixo a um vídeo institucional sobre estes tapetes.

segunda-feira, abril 02, 2018

O Dia do Anjo

O Dia do Anjo, a Segunda-feira do Anjo, o Anjo ou Festa da Hera, é uma festa do litoral norte português com origem na Póvoa de Varzim, mas também comemorado em diversas localidades (em especial Vila do Conde e Esposende) no qual a população faz um piquenique familiar nos campos e bouças da região, na segunda-feira depois da Páscoa.
Na Póvoa de Varzim, a população e empresas preferem trabalhar na Sexta-Feira Santa, feriado nacional, e ter a segunda-feira de folga para poder fazer o seu piquenique.
Esta festividade popularizada na Festa da Hera dos anos 20 do século XX, possuiu algumas reminiscências de cultos pagãos, iniciada com a ida tradicional da população da Póvoa de Varzim às bouças do Anjo, como é conhecida a freguesia de Argivai (paróquia de São Miguel - o Anjo), onde parte da população tinha origem.
Argivai é paróquia desde a época medieval e foi também uma antiga freguesia civil. Teve esse estatuto civil entre 1836 e 1842 e, pela última vez, entre c. 1853 e 2013. É, pois, uma das freguesias eclesiásticas da cidade da Póvoa de Varzim, e está dividida em duas partes: Argivai e Gândara.
A Argivai estão associadas devoções religiosas poveiras, como o Senhor dos Milagres, Nossa Senhora do Bom Sucesso e o Dia do Anjo.
No final do século XX, o desenvolvimento urbano da Póvoa de Varzim, nomeadamente a criação de auto-estradas (reduzindo e dividindo significativamente os espaços verdes), a crescente população e a necessidade de variedade de destinos fizeram com que muitas outras áreas da região fossem usadas para esse piquenique familiar, sendo Barca do Lago e Pinhais do litoral de Esposende, São Félix e Serra de Rates na Póvoa de Varzim e o litoral de Mindelo em Vila do Conde bastante populares. No entanto, algumas famílias tradicionais continuam a visitar as zonas verdes que restam da freguesia de Argivai. 
Porquê Festa da Hera?
A Hera é uma planta muito comum na Póvoa de Varzim. Encontra-se com grande frequência nos muros graníticos que dividem os campos rurais. Na Páscoa, quando chega a primavera, adquirem simbolismo, aquando da visita do compasso com a cruz dando a "boa nova" a cada casa, a população espalha folha de hera em frente à porta de suas casas para serem calcadas pelo compasso. Estas folhas espalhadas pelas ruas podem também formar caminhos, por onde deve passar o compasso ao passar a rua, visitando todas as casas com a porta aberta. A colocação das folhas depende do brio dos residentes de cada rua.
O Dia do Anjo era também um dia dos namorados. Os estudantes e outros rapazes solteiros esperavam esse dia com ansiedade porque era o único dia que os pais davam inteira liberdade de manhã à noite. A meio do piquenique cantavam-se muitas músicas do cancioneiro poveiro que puxavam para a dança.
As raparigas, nos anos 20, para financiar os músicos dissidentes da Banda Poveira e que fundaram a Banda Povoense (popularmente Banda dos Passarinhos) aproveitaram a tradicional ida ao Anjo e colocavam-se à entrada das bouças, onde as famílias faziam os piqueniques, vendendo folhas de hera aos casais que passassem:

Quem pela hera passou
e uma folhinha não tirou,
do seu amor não se lembrou.
ou

Quem me dera ser a hera
Pela parede subir
E espreitar à janela
Do teu quarto de dormir.

Levando a que os casais que passassem as comprassem. Os rapazes colocavam uma folha no chapéu ou no bolso do casaco e as raparigas prendiam-nas ao peito.

domingo, abril 01, 2018

O Pão - de - Ló de Margaride

Pão -  de -  Ló de Margaride é considerado o melhor pão-de-ló seco de Portugal.
Margaride foi uma freguesia portuguesa do concelho de Felgueiras (distrito do Porto), com 5,86 km² de área e 9 653 habitantes (2011). Tinha o nome alternativo de Santa Eulália e foi a sede do concelho de Felgueiras até 2013, ano em que foi extinta, no âmbito de uma reforma administrativa nacional, para, em conjunto com Várzea, Lagares, Varziela e Moure, formar uma nova freguesia denominada União das Freguesias de Margaride (Santa Eulália), Várzea, Lagares, Varziela e Moure da qual é a sede e empresta o seu nome a um famoso pão-de-ló.

O Pão -  de - Ló de Margaride é uma referência na doçaria tradicional portuguesa, sobretudo na Páscoa.
A qualidade e excelência deste doce regional foram reconhecidas pela Casa Real Portuguesa, tendo sido atribuído à sua criadora, D. Leonor Rosa da Silva, o título de "Doceira da Casa Real". A receita original, usada pela casa Leonor Rosa da Silva, que o comercializa, está guardada a sete chaves. Contudo, aqui lhe deixo duas receitas (uma delas em vídeo) deste tipo de Pão -  de - Ló.
O autêntico pão -  de -  ló de Margaride é cozido em forno de lenha em formas de barro não vidrado. Estas formas são constituídas por três tigelas, duas iguais e uma mais pequena, sendo esta colocada invertida no centro de uma das outras tigelas, formando um cano.

Ingredientes:
1 pitada de sal
19 gemas
250 g de farinha
500 g de açúcar
6 ovos inteiros
casca de 2 limões
Confeção:
Deite os ovos, o açúcar, as cascas de limão e o sal num recipiente amplo e bata até a mistura clarear e fazer castelo (a massa faz um montinho quando se deixa cair de uma colher).

Retire as cascas de limão e, aos poucos, junte a farinha em chuva, peneirada no momento. Note que a farinha não deve ser batida, mas sim bem misturada com as mãos, sendo, por isso, necessária a participação de duas pessoas — uma para peneirar e outra para envolver a farinha. Este processo manual poderá durar aproximadamente ½ hora e o pão de ló ica com uma textura muito fofa. No entanto, poderá também fazê-lo numa batedeira elétrica, o que lhe irá poupar tempo.

Deite a massa numa tigela previamente forrada com papel manteiga (ou outro papel grosso) untado, em quadrados sobrepostos. Encha a forma de pão -  de -  ló até um pouco mais de meio, vire os bicos do papel para dentro e tape com a segunda tigela.
Leve a cozer em forno moderadamente quente, durante 30 a 45 minutos no máximo. Verifique a cozedura com um palito.

Retire do forno e desenforme, deixando depois arrefecer o seu pão -  de -  ló de Margaride.
A receita que se segue, em vídeo, é uma versão adaptada de uma receita antiga de Mª de Lurdes Modesto, recolhida junto de habitantes de Felgueiras.