segunda-feira, abril 02, 2018

O Dia do Anjo

O Dia do Anjo, a Segunda-feira do Anjo, o Anjo ou Festa da Hera, é uma festa do litoral norte português com origem na Póvoa de Varzim, mas também comemorado em diversas localidades (em especial Vila do Conde e Esposende) no qual a população faz um piquenique familiar nos campos e bouças da região, na segunda-feira depois da Páscoa.
Na Póvoa de Varzim, a população e empresas preferem trabalhar na Sexta-Feira Santa, feriado nacional, e ter a segunda-feira de folga para poder fazer o seu piquenique.
Esta festividade popularizada na Festa da Hera dos anos 20 do século XX, possuiu algumas reminiscências de cultos pagãos, iniciada com a ida tradicional da população da Póvoa de Varzim às bouças do Anjo, como é conhecida a freguesia de Argivai (paróquia de São Miguel - o Anjo), onde parte da população tinha origem.
Argivai é paróquia desde a época medieval e foi também uma antiga freguesia civil. Teve esse estatuto civil entre 1836 e 1842 e, pela última vez, entre c. 1853 e 2013. É, pois, uma das freguesias eclesiásticas da cidade da Póvoa de Varzim, e está dividida em duas partes: Argivai e Gândara.
A Argivai estão associadas devoções religiosas poveiras, como o Senhor dos Milagres, Nossa Senhora do Bom Sucesso e o Dia do Anjo.
No final do século XX, o desenvolvimento urbano da Póvoa de Varzim, nomeadamente a criação de auto-estradas (reduzindo e dividindo significativamente os espaços verdes), a crescente população e a necessidade de variedade de destinos fizeram com que muitas outras áreas da região fossem usadas para esse piquenique familiar, sendo Barca do Lago e Pinhais do litoral de Esposende, São Félix e Serra de Rates na Póvoa de Varzim e o litoral de Mindelo em Vila do Conde bastante populares. No entanto, algumas famílias tradicionais continuam a visitar as zonas verdes que restam da freguesia de Argivai. 
Porquê Festa da Hera?
A Hera é uma planta muito comum na Póvoa de Varzim. Encontra-se com grande frequência nos muros graníticos que dividem os campos rurais. Na Páscoa, quando chega a primavera, adquirem simbolismo, aquando da visita do compasso com a cruz dando a "boa nova" a cada casa, a população espalha folha de hera em frente à porta de suas casas para serem calcadas pelo compasso. Estas folhas espalhadas pelas ruas podem também formar caminhos, por onde deve passar o compasso ao passar a rua, visitando todas as casas com a porta aberta. A colocação das folhas depende do brio dos residentes de cada rua.
O Dia do Anjo era também um dia dos namorados. Os estudantes e outros rapazes solteiros esperavam esse dia com ansiedade porque era o único dia que os pais davam inteira liberdade de manhã à noite. A meio do piquenique cantavam-se muitas músicas do cancioneiro poveiro que puxavam para a dança.
As raparigas, nos anos 20, para financiar os músicos dissidentes da Banda Poveira e que fundaram a Banda Povoense (popularmente Banda dos Passarinhos) aproveitaram a tradicional ida ao Anjo e colocavam-se à entrada das bouças, onde as famílias faziam os piqueniques, vendendo folhas de hera aos casais que passassem:

Quem pela hera passou
e uma folhinha não tirou,
do seu amor não se lembrou.
ou

Quem me dera ser a hera
Pela parede subir
E espreitar à janela
Do teu quarto de dormir.

Levando a que os casais que passassem as comprassem. Os rapazes colocavam uma folha no chapéu ou no bolso do casaco e as raparigas prendiam-nas ao peito.

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