domingo, fevereiro 08, 2015

Soneto do gosto de cinza

Virgílio Neves - Série Hipnoses
Levo um gosto de cinza pela boca,
uma assembléia doida de cansaços,
e uma tristeza, uma agonia louca,
como a dor que transborda dos meus braços

e se desmancha em rios pela terra
e arrasta os peixes todos para o anzol
e põe dentro de mim confusa guerra
e resiste ao luar, resiste ao sol,

desce em meu coração como um castigo
e me tem de mim mesmo dividido.
Mas tu, sereno sonho, porto, abrigo

contra os ventos do abismo ressentido,
farás do incêndio amargo destas horas
o berço de suavíssimas auroras.
Odylo Costa Filho - Cantiga Incompleta 

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