quinta-feira, outubro 16, 2014

Todas as aves do mundo de amor cantavam...

Todas as aves do mundo de amor cantavam...
e os grandes horizontes se estendiam multicores
e os dias da vida eram tão raros ainda
que se podiam enumerar, só por suas lembranças.

“Todas as aves do mundo de amor cantavam...”
mas grandes mares se abriram para passagens belas como ritos,
e os dias se tornaram tão numerosos e densos e duros
como essas pedras das fortalezas em montanhas antigas.

E agora são na verdade os dias inumeráveis
e cada um com sua angustia, e todos eles se entrechocam,
e a noite vem mais cedo há tempestades entre as nuvens.

E eu queria que todas as aves do mundo de amor cantassem,
mas um vasto silencio, uma vigília de morte
estende céus frios, céus escuros sobre amargos corações.
Cecília Meireles; 1960, "Poesia Completa" - Dispersos (1918-1964)

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